segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Transposição de embarcações: mais uma farsa em Belo Monte

A NESA afirma que sim, mas o Sistema de Transposição de Embarcações não funciona em Belo Monte

Altamira/PA, 28 de dezembro de 2012

A semana anterior ao Natal foi surpreendida com a circulação de uma matéria veiculada por uma das maiores mídias do País. A matéria dizia que o sistema de transposição para navegabilidade do rio Xingu, na área da ensecadeira do sítio Pimental, já estava concluído e em pleno funcionamento. A notícia logo se espalhou, mas para algumas pessoas que viajam constantemente para a volta grande do Xingu tudo isso não passava de mais uma grande mentira da Norte Energia (NESA).

Hoje as 09h30min uma equipe composta por nove pessoas, entre estas: um cinegrafista, uma repórter, ativistas socioambientais, um pescador, artistas que divulgam a luta contra Belo Monte e o piloto da voadeira, dirigiram-se até a ensecadeira para saber a verdade dos fatos. Encontraram o seguinte:

- Os trabalhos na ensecadeira do Pimental e no sistema de transposição continuam a todo o vapor. Todas as máquinas pesadas e outros veículos (escavadeiras, tratores, caçambas, caminhões, ônibus, veículos pequenos, balsas e voadeiras), estão funcionando na obra;

- Estão sendo realizados serviços de drenagem de lagos, aterramento de lagos e estradas, transportes de carros e trabalhadores entre a ensecadeira e a área de transposição. Há homens trabalhando em soldagem de ferros nas duas plataformas de transposição das embarcações;

- Topógrafos e engenheiros estavam a postos;

- A Empresa responsável pela transposição é a Transglobal, que está com uma equipe de 21 trabalhadores no local, 24h a disposição de ninguém, exceto da nossa equipe, que chegou hoje para fazer o transbordo sem sucesso;

- O canal de navegabilidade, com aproximadamente 600m, continua sendo o do curso natural do rio, que não foi fechado;

- Formou-se uma forte corredeira (os pescadores chamaram de cachoeira) que não existia no canal natural, mas logo foi detectada pelo piloto e pelo pescador que trabalham/trabalhavam nessa área do Xingu.

Conferi, nesse momento, 35 homens e mulheres trabalhando na parte da jusante do Sistema de Transposição de Embarcações (STE), mas existem trabalhadores espalhados por toda a obra. Nesse local, as obras estão assim: a estrada, com cerca de 2 km, está apenas no barro e com muita lama por conta das chuvas; as plataformas que farão o transbordo não estão concluídas; a rampa para o acesso das embarcações são improvisada; as embarcações serão levadas por uma carretinha acoplada a um trator. Nenhuma obra, tanto na ensecadeira quanto na transposição, estão concluídas.


Nossa experiência para inaugurar a transposição foi decepcionante. Chegamos do lado da jusante (termo utilizado pelos funcionários) para fazermos o transbordo para a montante, ao pararmos na rampa improvisada fomos bem recebidos pelos funcionários da Transglobal, uma empresa de Manaus que será responsável pela transposição das embarcações e do povo. Perguntamos ao encarregado se eles já tinham experiência nesse ramo, a resposta foi não, mas segundo ele a equipe está preparada para o serviço, também informou que o tempo será de 40 minutos para o transbordo.

Depois de ouvirmos como se daria nossa travessia, ficamos aguardando uma van para nos transportar, enquanto isso um trator com um suporte de ferro se aproximava da rampa para levantar a voadeira de 12 lugares e assim transportá-la até a montante, ficamos aguardando na van aquela operação. Com muita dificuldade o manobrista do trator não conseguia posicionar o suporte corretamente para içar a voadeira, a van sem ar condicionado começou a esquentar e tivemos que abrir a porta para ventilar, em seguida veio o encarregado nos dar a noticia que o transporte da voadeira não seria possível por algum motivo que não prestei atenção, e assim seguimos na van pela estrada de lama até o provável lago chamado por eles de montante. Nossa voadeira teve que seguir seu trajeto pelo rio.

Após essa situação e de volta ao nosso transporte, o piloto nos disse que a mesma não chegou a ser colocada sobre o suporte porque o mesmo é curto e o motor ficaria forçando, correndo o risco de quebrar no transporte até o outro lado do rio. Essa aventura levou mais de 30 minutos e não se conseguiu fazer o transporte da nossa embarcação.

Imagem da plataforma

Um dos trechos da matéria que nos referimos no início diz o seguinte: “Para permitir a navegação, a empresa também construiu um sistema de transposição, que é um guincho usado para atravessar as embarcações por cima da barragem”; “O sistema já está operando para pequenos barcos”.

A presença da empresa responsável para fazer a transposição não significa que está acontecendo o transbordo. Nenhum pescador ou piloto de voadeira estão usando o STE e nem mesmo sabem como funciona. Mesmo assim, a empresa está sendo paga? As condições inacabadas da transposição não oferecem nenhuma condição e segurança para a sua operacionalidade. Fomos os primeiros a tentar o caminho da transposição. Tudo não passou de uma mentira que foi publicada.

Após a visita ao setor de transposição nos dirigimos para a ensecadeira do Pimental. As máquinas e trabalhadores continuam a trabalhar. Estão fazendo a drenagem dos lagos e subindo o nível das ensecadeiras, que aumentou consideravelmente em relação ao nível do rio Xingu.


As perguntas: por que estão querendo que os barcos e voadeiras comecem a utilizar o sistema de transposição sem antes concluírem a obra? O rio não foi todo fechado. Segundo o pescador que foi com a gente o canal por onde os barcos estão passando não tinha cachoeira, agora se formou uma, a correnteza está muito forte e ainda só está no inicio do inverno. Será que estão se prevenindo caso as rabetas e outros barcos, com motores menos potentes, não consigam passar com a força do inverno?

Em se tratando de Norte Energia (NESA), apoiada pela grande mídia e pelo Governo Federal, tudo sempre se transforma em incertezas, mentiras e ilusões.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Entidades fazem manifestação durante diplomação de vereadores em Belém

A luta contra Belo Monte se dá em vários campos. Nos tribunais, no campo científico, na comunicação com a sociedade, nas ruas, nos rios, na floresta (sendo estes últimos os principais campos de batalha), entre outros.

A luta no parlamento também deve ser levada em consideração, mesmo sendo este um espaço composto, em sua grande maioria, por representantes daqueles que defendem o predomínio do capital e a destruição da natureza.

No dia 18 de dezembro ocorreu a diplomação do prefeito e dos vereadores eleitos para os anos de 2013 a 2016, em Belém, capital do estado onde o governo federal, empreiteiras e mineradoras iniciaram a construção da terceira maior hidrelétrica do mundo.

Entre várias ilegalidades cometidas nesta obra está o processo de criminalização contra 11 ativistas que participaram do evento denominado Xingu+23 e a prisão de 05 operários que estavam trabalhando no Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) quando ocorreu a última greve, no mês de novembro/2012. Como não há nenhuma prova que eles tenham cometido algum crime, os mesmos podem ser considerados presos políticos da Norte Energia (NESA) e do governo federal, pois estão encarcerados apenas por participar ou apoiar a greve, momento em que reivindicavam melhores salários, condições de trabalho e o direito de visitar seus familiares regularmente.

No momento da diplomação foi organizada uma manifestação contra Belo Monte e em defesa dos presos políticos, contando com a participação de ativistas, de militantes partidários e dos parlamentares verdadeiramente comprometidos com a defesa das riquezas naturais e com os povos da Amazônia.

A luta segue. Belo Monte não é um fato consumado como acreditam os governos e as elites econômicas. Muita água ainda há de correr no Rio Xingu. Muitas barragens ainda serão levadas pela força dos rios da Amazônia.

Rios vivos. Pan-Amazônia livre.


Fernando Carneiro - vereador diplomado PSOL/Belém

Faixa aberta durante a solenidade de diplomação. 

Cléber Rabelo - vereador diplomado PSTU/Belém

Francisco Almeida (Dr. Chiquinho) - vereador diplomado PSOL/Belém

Marinor Brito - vereadora diplomada PSOL/Belém

É importante informar que diversos vereadores diplomados assinaram uma nota, por iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Belém e Ananindeua, pedindo a liberdade aos cinco operários presos em Altamira.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ORGANIZAÇÕES DENUNCIAM A EXISTÊNCIA DE PRESOS POLÍTICOS EM ALTAMIRA E PEDEM JUSTIÇA JÁ!


No dia Internacional dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, diversas organizações sociais realizaram um ato público em frente ao prédio do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), em Belém.
Localizado em uma das principais avenidas da cidade, local de intensa movimentação de ônibus, veículos de passeio, motos, bicicletas e transeuntes, é o centro de recrutamento para a Norte Energia S/A (NESA) na capital paraense. Quem passava pelo local conhecia um pouco mais da situação que se instalou na região do Xingu, mais especificamente na cidade de Altamira, depois do inicio das obras da hidrelétrica de Belo Monte.
Com uma inflação de mais de 30%, o simples PF (prato feito) esta custando na região aproximadamente R$17,00; o aluguel de uma modesta casa esta por volta de R$1.500,00; e os índices de violência no trânsito, assaltos, estupros e latrocínios, só tem aumentado.
Junto aos manifestantes estavam parentes de alguns dos 05 trabalhadores que se encontram presos em Altamira, acusados de participar dos incidentes ocorridos no início do mês passado, quando instalações e máquinas foram incendiadas. O problema é que no processo não existe uma única foto, filme ou qualquer outra coisa que ligue os operários presos aos atos em questão. Isto mostra que os trabalhadores foram pegos no meio da multidão, para servir de exemplo aos demais operários.
O depoimento do irmão de um dos presos emocionou os presentes no ato público, em especial quando relatou que seu irmão nunca esteve envolvido em nenhum problema com a polícia e/ou com a justiça, mas que de uma hora para outra a sua vida mudou, tendo ido procurar melhoria para sua família e encontrado criminalização e prisão por estar reivindicando direitos básicos como salário, condições de trabalho e o direito de ver a família regularmente. Isso por si só já indica que estes trabalhadores estão presos por discordar da concepção, portanto das idéias, da empresa e do governo, parceiros no empreendimento. A conclusão que se pode tirar é que, se não há provas de que eles infringiram a lei, havendo apenas divergência de concepções e idéias, então estes trabalhadores são um novo tipo de preso político no Brasil.
Aqueles que passavam também foram informados sobre a campanha Belo Monte Justiça Já! Esta tem como objetivo cobrar da justiça brasileira o julgamento das mais de 50 ações que estão engavetadas, aguardando decisões definitivas. São ações que se referem ao não cumprimento das condicionantes, não realização das oitivas indígenas, remanejamento de milhares de pessoas que serão afetadas pelas obras, poluição do rio e diversas outras questões que a empresa não tem garantido.
Em agosto de 2012 o pleno do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) determinou a suspensão imediata das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, sob pena de multa diária de R$ 500 mil. A suspensão foi determinada devido ao descumprimento à determinação constitucional que obriga a realização de oitivas nas comunidades afetadas. Porém, antes do final daquele mês, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ayres Britto, de forma monocrática, expediu liminar autorizando que as obras fossem retomadas. Atualmente a ação está parada, aguardando o julgamento definitivo pelo pleno do STF.
No ato de hoje estiveram presentes representantes de várias organizações, que foram apoiar o Dia Internacional de Ação Contra Belo Monte: Unidos Pra Lutar; CSP-Conlutas, Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belém e Ananindeua; IAMAS; CPT; SINTSEP-PA; VEM; MLB; Comitê Dorothy; FAOR; PSOL; PSTU; Oposição/SEPUB; Comissão dos Trab. Fund. lotados no HUJBB e HUBFS; Juventude do PSTU; ANEL; Comitê Xingu Vivo e familiares dos trabalhadores presos pela NESA e Governo Federal.
Nossa luta continua!
Pare Belo Monte!