sábado, 31 de dezembro de 2011
sábado, 24 de dezembro de 2011
Belo Monte em 2011: a instalação do caos
Mensagem de Natal e de agradecimento do Movimento Xingu Vivo para Sempre
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
E O XINGU CHEGOU AO SENADO – NOTA DO XINGU VIVO
O Comitê Xingu Vivo e o Movimento Xingu Vivo para Sempre se solidarizam com a senadora Marinor Brito reiterando que a luta contra a corrupção e contra Belo Monte continuam. Esta decisão retrógrada não calará a sua voz, nem a nossa.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Manifestações contra Belo Monte acontecem em sete estados esta semana
http://www.xinguvivo.org.br/2011/12/13/manifestacoes-contra-belo-monte-acontecem-em-sete-estados-esta-semana/
Publicado em 13 de dezembro de 2011Por Xingu Vivo
Novas manifestações contra a hidrelétrica de Belo Monte estão sendo convocadas em oito cidades de sete estados esta semana. No Rio de Janeiro, o ato deverá acontecer na quinta, dia 15, e nos demais locais no dia 17, sábado. Veja abaixo os links das convocatórias via facebook.
Um dos focos dos protestos de dezembro deve ser a campanha “Belo Monte: com meu dinheiro não!”, lançada na última semana pelo Movimento Xingu Vivo para Sempre para pressionar os bancos a não participarem do financiamento da usina. “Sem dinheiro, não tem Belo Monte. Protestar contra o financiamento da hidrelétrica, pressionar seu banco, é uma forma eficaz e simples de ajudar na campanha contra este projeto insano”, afirma o Movimento.
Para auxiliar os ativistas nos estados, o MXVPS disponibiliza aqui alguns materiais que podem ser reproduzidos em banners, faixas e panfletos.
Ajude a divulgar, e caso saiba de alguma atividade em locais não listados ainda, envie as informações para campanhaxingu@gmail.com.
Locais e datas das manifestações
Belém, dia 17, concentração às 8h em frente ao Teatro da Paz
http://www.facebook.com/events/120275634750647/
São Paulo, dia 17, concentração às 14 h no vão livre do MASP
https://www.facebook.com/events/203015226446168/
Rio de Janeiro, dia 15, a partir das 10h na Cinelandia
http://www.facebook.com/events/255727841153165/?context=create
Cuiabá, dia 17, a partir das 9h na Pça. Alencastro
Manaus, dia 17, a partir das 8:30h na Pça. da Saudade
http://www.facebook.com/events/115048181943838/
Salvador, dia 17, a partir das 9h na Pça. Castro Alves
https://www.facebook.com/events/222753121128429/
Porto Alegre, dia 17, a partir das 17 h na Usina do Gasômetro
https://www.facebook.com/events/311991998819649/
Campinas, dia 17, a partir das 15h em frente ao Carmo Chop
https://www.facebook.com/events/101503719966736/
Ubatuba, dia 17, às 17:00h, Pistinha de sakte, centro
http://www.facebook.com/#!/events/152711721499658/
Sugestões de materiais para campanha/download
Panfleto
Panfleto frente
Panfleto Verso
Banners e faixas
http://www.xinguvivo.org.br/materiais-para-baixar/
sábado, 10 de dezembro de 2011
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
MANIFESTO KAYABI, APIAKÁ E MUNDURUKU CONTRA OS APROVEITAMENTOS HIDRELÉTRICOS NO RIO TELES PIRES
DIA X EM DEFESA DO XINGU, CONTRA BELO MONTE
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Resistência contra Belo Monte - Vídeo dos estudantes amazônidas
Belo Monte: O Brasil está patrocinando o maior desastre socioambiental do Planeta, artigo de Antonio Germano Gomes Pinto
O governo brasileiro do Partido dos Trabalhadores, esta patrocinando o maior desastre Sócio Ambiental de todos os tempos, a nível mundial, indo contra a opinião quase unânime do povo brasileiro, construindo ao arrepio da lei e da vontade popular, o grupo de usinas intitulado Belo Monte.
Um partido que se diz democrata está atropelando a opinião publica e desrespeitando a Legislação Ambiental Brasileira.
Então vejamos:
Desgaste político com decisões injustificáveis:
a) O Governo baseou sua decisão num EIA-RIMA encomendado pelos futuros empreiteiros que apesar de bastante tendencioso, aponta vários e sérios impactos negativos.
b) Apesar do clamor dos brasileiros que vêm denunciando tão nefasto empreendimento, através da mídia e das audiências públicas, vêm sendo ignorado, simplesmente porque repudia as pretensões duvidosas do Governo defendendo seus obscuros interesses, numa demonstração de prepotência e arrogância;
c) Um painel de quarenta especialistas condena a construção das usinas de Belo Monte, avaliando e analisando o custo benefício da desastrosa empreitada;
d) Usinas só funcionarão quatro meses por ano, no período das cheias;
e) Que se tenha conhecimento, nenhuma ONG ou instituição isenta ou que não tenha interesse econômico sobre o empreendimento Belo Monte defende os “ideais” do Governo;
f) Diria mesmo que nenhum cidadão esclarecido será capaz de aplaudir o conglomerado de usinas Belo Monte!
Destruição do Meio Ambiente:
a) Para execução da obra, haverá a necessidade de uma gigantesca movimentação de terra;
b) Construção de infra estruturas de entorno, vias de acesso, alojamentos, residências, comércio, estações de tratamento de água e esgoto, etc,
c) Além do alagamento natural com destruição das florestas no local da represa, as florestas vicinais também serão destruídas para construção dos prédios e galpões administrativos;
d) O impacto destrutivo na fauna e na flora será incomensurável e irreversível. Muitas espécies deixarão de existir;
e) O clima da região será alterado com tendência à longas e imprevisíveis estiagens porque o verde, a floresta será substituída por um espelho de água. A explicação é simples: Tomemos como exemplo uma folha viva, presa em uma arvore com dez centímetros quadrados. Essa folha recebe do tranco do vegetal onde está presa, sob pressão capilar, água em estado quase molecular em seus dois lados. A evaporação dos dois lados da folha vegetal será maior ou menor, dependendo dos ventos, calor ambiente, pressão do ar e quantidade de seiva (água) fornecida pelo tronco. A superfície evaporativa, no exemplo, será de vinte centímetros quadrados, dos dois lados da folha. Imaginemos a evaporação das florestas com seus milhões de folhas! As folhas criam uma maior intimidade entre o ar e o vapor de água porque a tensão superficial da água deixa de existir, conseqüência do efeito capilar. No espelho de água, o vapor da própria água terá de vencer a tensão superficial antes de se formar, além de ter sua superfície evaporativa muito menor. Tantas vezes menor quanto a quantidade de folhas verdes existentes na floresta. Podemos nos preparar para termos em torno da represa um “deserto ciliar” que irá se expandindo ao longo dos anos.
f) A represa irá cobrir a vegetação, provocando a decomposição anaeróbia da massa verde submersa. A biomassa se decompondo irá liberar para atmosfera o gás metano vinte e uma vezes mais poluidor do que o gás carbônico.
g) A massa de água acumulada pela represa poderá causar, devido ao seu peso, alterações geológicas capazes de induzir tremores e terremotos de terra nos países situados na borda Oeste da Placa Tectônica, como por exemplo, no Chile.
Diante do exposto, ficam as perguntas:
a) O que leva o Governo a praticar tamanha aberração?
b) O que existe realmente por traz desta obra faraônica?
c) Será que nossa Presidente também não estará sendo enganada por nossos “honestíssimos políticos”?
Antonio Germano Gomes Pinto, Engenheiro Químico, Químico Industrial, Bacharel em Química com Atribuições Tecnológicas, Licenciado em Química, Especialista em Recursos Naturais com ênfase em Geologia, Geoquímico, Especialista em Gestão e Tecnologia Ambiental, Perito Ambiental, Auditor Ambiental e autor de duas patentes registradas no INPI, no Merco Sul, na UE, na World Intellectual Property Organization números WO2000/027503 and WO 1996/015081 e em grande número de países.
Registros Profissionais:
Engenheiro Químico – CONFEA 200136654-0 e CREA/RJ 1998103814
Químico Industrial: CRQ 3ª Re. 03302170.
Professor: MEC 19.563.
World Intellectual Property Organization numbers WO2000/027503 and WO 1996/015081
EcoDebate, 07/12/2011
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Jovem aproveita cerimônia no Planalto para protestar contra Belo Monte
Estudante do ensino médio ganhou Prêmio Jovem Cientista com pesquisa sobre embalagens ecológicas para mudas
"Falei com ela sobre Belo Monte rapidinho, ela não demonstrou interesse, não deu muita importância", disse Ana Gabriela. "Pedi que ela desistisse da usina e salvasse o Xingu. Não queria perder a oportunidade de estar na frente de tantas autoridades políticas e não demonstrar o meu interesse pela vida no Xingu."
Segundo a estudante, a presidente deu uma resposta monossilábica ("Tá") e continuou sorrindo à frente das câmeras. Ana Gabriela disse que não é ligada a organizações não-governamentais , mas afirmou que costuma participar de protestos contra Belo Monte.
A 25.ª edição do Prêmio Jovem Cientista bateu recorde de inscrições - 2.321 trabalhos foram analisados, um número 7% maior que o da edição passada.
A Universidade de São Paulo (USP) destacou-se, aparecendo em segundo lugar na categoria estudante graduado (Karin Regina Marins), segundo lugar na categoria estudante do ensino superior (Cibele Rosa Oliveira) e na premiação ao professor Lázaro Zuquette na categoria menção honrosa.
Em seu discurso, Dilma disse que "se não tivermos produção científica em nosso solo não realizaremos todo o potencial desse País". A presidente também aproveitou a cerimônia para afagar o ministro da Educação, Fernando Haddad, pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo.
"Queremos uma qualidade da educação massiva, está aqui o ministro Fernando Haddad, responsável e vem sendo sistematicamente um dos líderes da renovação da questão educacional no Brasil. Sem ele nós não teríamos a possibilidade de construir esse projeto que é o projeto de transformar esta década em década que o governo vai se ocupar estrategicamente da questão da ciência e da tecnologia."
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,jovem-aproveita-cerimonia-no-planalto-para-protestar-contra-belo-monte,807488,0.htm
Nota sobre medidas de proteção aos direitos das populações Xicrin da TI Trincheira Bacajá
Publicado em 05 de dezembro de 2011
O pedido de audiência foi feito em nome das lideranças mais velhas da TI diante da situação insustentável das aldeias no tocante à segurança alimentar, educação e saúde, o temor e as incertezas sobre os impactos de Belo Monte, e principalmente a sucessiva série de descumprimentos de acordos assumidos pela Norte Energia (NESA).
Atendendo ao convite da ABEX – Associação Beby Xikrin, em meados de outubro o MPF foi às aldeias Mrotidjam e Bakajá, acompanhado de representantes do MXVPS e de uma antropóloga, para responder a questionamentos relativos a impactos da UHE Belo Monte, saúde, educação e de um projeto de mineração da Vale na terra indígena (para ler nota do MPF sobre a reunião, clique em http://tinyurl.com/6r99ohk).
Os mais velhos das várias aldeias da TI, representando seus povos, destacaram nessas reuniões as seguintes questões:
- Os indígenas nunca tiveram real conhecimento do que será a barragem de Belo Monte
- Nas inúmeras reuniões com representantes da Nesa, do Ibama e da Funai, quando perguntavam sobre as conseqüências da barragem na Volta Grande do Xingu e no rio Bacajá, foram informados de que uma outra equipe viria para responder os questionamentos, o que nunca aconteceu.
- Os peixes, que compõe a base de sua dieta, sobem o rio Bacajá até a cabeceira para
desova. Eles são provenientes da Volta Grande do Xingu. Com a diminuição de 80%
a 90% no volume de água da Volta Grande do Xingu, eles desaparecerão.
- Acordos da Nesa que prometeram melhoria nas moradias e veículos para a fiscalização da área nunca foram cumpridos.
Acerca dos problemas relativos à utilização das verbas emergenciais de R$ 30 mil/mês por aldeia, pagos pela Norte Energia como compensação ambiental, afirmaram que:
- O dinheiro é aplicado através de listas de mercadorias e bens, que são comprados em quantidade e qualidade inferiores e preço acima do mercado.
- Jamais tiveram acesso às notas fiscais desses produtos.
- Os produtos comprados pela Nesa são de péssima qualidade.
- Os motores das voadeiras não funcionam.
- Foi denunciado tratamento desrespeitoso por empregados da Norte Energia.
- Denunciaram que um representante da Norte Energia exigiu a assinatura de nota de 300 quentinhas referentes à alimentação de indígenas em atividade em Altamira, quando só havia uma família Xikrin na cidade.
- A Nesa prometeu ferramentas agrícolas, como facão, machado e outros, e não entregou. Nem mesmo as mudas de cacau que seriam enviadas às aldeias chegaram.
Sobre os demais pontos da pauta, foram apresentadas uma série de denúncias quanto à falência dos atendimentos de saúde (maus tratos a indígenas enfermos, meses de espera para atendimento, falta de limpeza dos espaços de saúde, quartos imundos, etc), da educação (os professores estão passando, no máximo, quatro meses nas aldeias, o ensino só atende crianças até a quarta série primária, jovens não conseguem se acostumar com a vida em Altamira quando são forçados a completar os estudos na cidade, etc), e ainda sobre o projeto de mineração Salobo da Vale (maior jazida de cobre já descoberta no Brasil, cujas atividades começariam no segundo semestre de 201), que, de acordo com os indígenas, vai atingir a parte sul da TI Trincheira Bacajá.
Por fim, os Xicrin exigiram que o MPF fiscalize a aplicação dos recursos destinados às aldeias através do plano emergencial ambiental, bem como acione a Justiça, em seu nome, no sentido de paralisar a construção de Belo Monte.
Em cumprimento de sua função, em atendimento às demandas das lideranças Xicrin e adotando linguagem que buscou facilitar o entendimento dos representantes das aldeias ali presentes (entre os quais muitos não falam ou entendem português), o MPF explicou as bases legais das condicionantes indígenas – de cumprimento obrigatório da Norte Energia -, e os trâmites dos repasses de recursos, à luz dos direitos das populações da TI.
Sobre a TI Trincheira Bacajá
A Terra Indígena Trincheira Bacajá (TITB), composta originalmente pelas aldeias Mrotidjam, Bacajá, Pàt-Krô e Pykayakà, foi homologada em outubro de 1996 através de Decreto Federal. Localizada nos municípios de Pacajá, São Félix do Xingu, Senador José Porfírio, Anapu e Altamira, possui uma área de aproximadamente 1.650,939 ha, destinada à posse do grupo indígena Xikrin.
De acordo com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de Belo Monte, a TITB estaria na Área de Influência Indireta da usina, apesar do fato de que a usina levará à “uma evidente ruptura do nível de base do rio Bacajá”. Em suas considerações finais, no entanto, afirma que, “considerando a vulnerabilidade da Terra Indígena Trincheira Bacajá em relação ao empreendimento, é importante destacar a necessidade de se estender os estudos dos meios físico e biótico para o curso do rio Bacajá, de forma a complementar os estudos realizados no âmbito do EIA-RIMA ao longo do rio Xingu, e de modo a favorecer uma análise integrada. É importante que se defina qual será a interferência do hidrograma ecológico, proposto para o Trecho da Vazão Reduzida do rio Xingu, na dinâmica do rio Bacajá, e consequentemente no meio biótico, no modo de vida e na reprodução física e cultural da população indígena da TITB”.
Ainda nas considerações finais, o EIA afirma que “os índios constituem uma sociedade cuja economia tem alto grau de subsistência, ficando evidente que é enorme a dependência econômica em relação ao seu território e aos recursos naturais nele presentes. (…) Ficou claro que esta sociedade tem, como vetor principal para o desenvolvimento de suas atividades de subsistência e das relações sociais entre as aldeias, o rio Bacajá. Conforme indicado neste estudo, algumas premissas devem guiar a elaboração de um Plano de Gestão da Terra Indígena Trincheira Bacajá, sendo elas: ampla e permanente participação indígena, transparência de informações, contato direto com a comunidade, compromissos sustentáveis, considerações das especificidades socioculturais indígenas e considerações das perspectivas dos índios”.
Diante do inequívoco reconhecimento oficial de que o rio Bacajá e a TI Trincheira Bacajá sofrerão impactos da usina de Belo Monte; diante do fato de os estudos adicionais estarem sendo realizados posteriormente à emissão da Licença de Instalação – que, legalmente, teria de ser concedida apenas após a avaliação completa dos prejuízos causados pelo empreendimento; diante do fato de que os Planos Básicos Ambientais (PBAs) para a TITB não consideram tais impactos, por serem desconhecidos; e diante das inúmeras denúncias de abusos, desvios de verbas e descumprimentos de acordo por parte da NESA, o Movimento Xingu Vivo para Sempre solicita ao Ministério Público Federal que, além de cumprir sua função no esclarecimento de fatos e dos direitos das populações indígenas, tome as medidas legais cabíveis para extinguir todo e qualquer abuso e ilegalidade cometidos pelo consórcio Norte Energia, pelo Ibama, pela Funai e por demais órgãos envol vidos na construção de Belo Monte.
Altamira, 3 de dezembro de 2011
Movimento Xingu Vivo para Sempre
Governo veta discussão sobre oitivas e expulsa observadores de reunião indígena
Por Xingu Vivo
Apesar da exigência dos índios, encaminhada no dia 25 de novembro, da presença da presidência da Funai e de diretores do Ibama e do Incra com poder de decisão, participaram da reunião apenas representantes da Secretaria Geral da Presidência e do departamento de licenciamento ambiental do Ibama, além do Ministério Público Federal em Altamira e do diretor de assuntos socioambientais da NESA.
Uma das primeiras demandas apresentadas pelos indígenas foi o cumprimento das condicionantes, em especial a solução da situação conflituosa da Terra Indígena (TI) Apiterewa, ocupada em grande parte por fazendeiros e pequenos agricultores, e sem previsão de retirada dos invasores. De acordo com os indígenas, os postos de vigilância na TI têm graves problemas e várias lideranças têm sido vítimas de ameaças de morte, mas até o momento não havia, por parte do Incra, nenhuma informação sobre a retirada e realocação dos invasores.
Representantes da aldeia juruna mais próxima às obras, por outro lado, reiteraram a posição contrária à usina e voltaram a exigir do governo que paralisasse Belo Monte. Segundo os juruna, obrigações com agricultores e indígenas não estão sendo cumpridas pela NESA, e a FUNAI em Altamira tem se aliado à empresa. Também denunciaram que não têm informações sobre o projeto de ampliação de sua aldeia; que o tratamento de saúde é precário; que não há poço em sua aldeia, sendo que bebem a água do rio Xingu; que não recebem educação de qualidade; que a “zoada” das máquinas espanta a caça; e que os indígenas estão sendo prejudicados “enquanto a empresa só aumenta seu desenvolvimento”.
Ainda de acordo com os juruna, já estão ocorrendo roubos na comunidade e as obras de asfaltamento da PA 415 tem causado impactos e problemas, como a escavação de um igarapé e enchentes nos períodos de chuva.
De acordo com o relatório da reunião, foi denunciado também que: “na época de seca, demora-se um dia pra chegar às aldeias; que o rio irá secar; que [a NESA e o governo] querem que os índios vivam de agricultura, mas a tradição deles é a pesca; e que foi prometido pela Norte Energia empregos para os indígenas, o que ainda não aconteceu”, entre outros.
Sobre as oitivas, contrariando o governo e a Funai, os indígenas continuam negando que estas tenham ocorrido. De acordo com os índios, “o pessoal de Belo Monte apenas foi às aldeias falar sobre o processo de instalação da empresa, e o IBAMA também não realizou oitivas”. Diante disso, exigem a realização e a paralisação das obras até que sejam feitas. “Também foi dito às aldeias [pelo consórcio Belo Monte] que as condicionantes seriam cumpridas, para posteriormente iniciarem as instalações da obra, o que não ocorreu, denunciaram..
Por fim, os índios também criticaram duramente os trâmites do Plano Básico Ambiental (PBA, conjunto de medidas para minimizar ou solucionar problemas causados pela usina), uma vez que foi acordado que os estudos de impacto seriam apresentados aos indígenas antes de sua finalização e aprovação, o que não ocorreu. De acordo com o representante da NESA, o PBA já está pronto, mas, se for necessário, a empresa voltará às aldeias para “conversar”.
Reconhecimento de impactos com respostas vagas
De acordo com o Diretor Socioambiental da Norte Energia, Antonio Coimbra, a empresa
reconhece que os maiores impactos de Belo Monte atingirão as aldeias Juruna do km 17, Paquiçamba e Arara, mas que os Xicrin da TI Trincheira Bacajá também enfrentarão problemas; principalmente para atravessar a barragem da usina, que fechará seu acesso por rio à Volta Grande do Xingu e à Altamira. Por outro lado, Coimbra também reconheceu impactos sobre o próprio rio Bacajá.
Quanto aos encaminhamentos – foram apresentados 18 demandas –, boa parte ficou sem resposta concreta. Já na primeira questão – descumprimento das oitivas indígenas -, o governo foi inflexível e exigiu sua retirada da pauta afirmando que se trata de ponto inegociável. Sobre as denúncias de não cumprimento das condicionantes indígenas, o MPF ficou de requisitar à NESA um relatório para verificar o seu andamento. Já o governo informou que, no caso da retirada dos invasores da TI Apiterewa, a previsão é que os ocupantes de boa-fé serão retirados até fevereiro de 2012 e realocados em uma fazenda já disponibilizada para este fim. Posteriormente, serão retirados os invasores de má-fé. Por fim, como durante toda a reunião foram feitas duras críticas à Funai e às práticas do órgão na região, o governo afirmou que encaminhará a questão à Brasília.
Uma série de outras demandas focou na questão de repasse de recursos. Segundo os indígenas, uma verba de R$ 30 mil/mês, prevista no plano emergencial ambiental (mitigação de impactos) e que deveria ser repassada pela NESA às aldeias, tem sofrido desvios, malversação e são aplicadas apenas na compra de produtos que tem de ser solicitados pelas aldeias através de listas de compras. De acordo com os indígenas, os produtos são superfaturados, não chegam às aldeias como solicitados, e quando chegam, são de péssima qualidade.
Além de reparação nesses procedimentos, diante do surgimento de novas aldeias no último período – nove, no total -, os indígenas exigiram que os benefícios sejam estendidos a estas também, argumentando que o dinheiro não deve ser definido pelo critério “per cápita”, mas pelo número de aldeias. Também exigiram um aumento do valor, considerado insuficiente, e pagamentos enquanto a usina Belo Monte existir.
Diante das denúncias de malversação das verbas, a NESA se comprometeu a “verificar as discrepâncias e depois justificá-las melhor”. Por outro lado, exigiu que os indígenas justifiquem o pedido de aumento do valor, para que o consórcio possa discutir a questão com a Funai. De qualquer forma, os recursos só serão pagos até dezembro de 2012 e não pelo período de existência da usina, avisou a empresa. Já para outro plano de repasses – destinado a projetos de fortalecimento cultural -, que atualmente prevê R$ 50 mil às aldeias, a empresa concordou em aumentar o valor para R$ 80 mil, apesar da demanda ter sido R$ 150 mil.
Expulsão de observadores
A reunião entre índios e governo foi precedida de uma grande confusão quando o governo resolver exigir a retirada de todos os observadores da Casa do Índio, local do encontro. Na semana anterior, várias lideranças indígenas haviam gravado um vídeo convocando observadores e imprensa para a reunião, como forma de “proteção contra as mentiras da NESA e do governo”.
Argumentando medo de alguma ação radical por parte dos índios, como seqüestros ou protestos, porém, o governo, escoltado por um forte aparato policial, exigiu a retirada de todos os não-índios – representantes dos movimentos sociais, antropólogos da Funai, acadêmicos, pesquisadores e jornalistas –, o que desagradou a muitas lideranças indígenas presentes no encontro.
“Mais uma vez o governo Federal consegue deslegitimar a voz das populações indígenas, modificando parte da programação feita por nós, fechando o diálogo que deveria ser público, colocando os indígenas em uma situação de extremo desconforto com as organizações que convidamos, estiveram presentes e foram praticamente expulsas. Muitas lideranças ficaram indignadas com o resultado de tudo, de como as coisas foram conduzidas”, afirmou Sheyla Yakarepi Juruna, liderança juruna e membro do Movimento Xingu Vivo para Sempre.
Índios Kayabi e Munduruku anunciam que vão resistir contra usinas no Teles Pires
http://www.prpa.mpf.gov.br/news/2011/indios-kayabi-e-munduruku-anunciam-que-vao-resistir-contra-usinas-no-teles-pires
Belém, 05 de dezembro de 2011
Procuradores da República do Mato Grosso e do Pará estiveram semana passada na Terra Indígena Kayabi, na divisa entre os dois estados, a convite dos índios Kayabi e Munduruku, para debater os projetos de usinas hidrelétricas que afetam suas terras. Em outubro, essas mesmas etnias fizeram reféns sete funcionários da Funai e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que faziam estudos sobre as hidrelétricas.
O governo federal planeja seis barragens para o Teles Pires, que juntamente como o Juruena, forma o rio Tapajós. Para a bacia toda, que inclui ainda os rios Jamanxim e Apiacás, o plano é fazer um total de 16 barragens, o que vai impactar de maneira decisiva mais de 10 mil indígenas que vivem as margens desses rios e dependem deles para sobreviver.
Meninas Munduruku dançando: futuro ameaçado pela construção de usinas nos vales dos rio Teles Pires e Tapajós
Inconformados com os projetos e com a velocidade dos acontecimentos –as usinas Teles Pires, Colíder e Sinop já estão em execução, sem estudos indígenas concluidos – os índios convidaram os procuradores da República que atuam no Mato Grosso e no Pará, para uma visita à aldeia Kururuzinho onde denunciaram a forma como o governo conduz os empreendimentos e o abandono que as comunidades enfrentam. O MPF já iniciou duas ações civis públicas na Justiça Federal contra as usinas Teles Pires e São Manoel e acompanham o andamento das outras.
A principal queixa dos índios é a ausência de consulta sobre os empreendimentos. “Pra quê todos os governos do mundo assinaram a Convenção 169?”, questionou Jairo Munduruku, referindo-se à convenção internacional da qual o Brasil é signatário, que obriga consulta aos povos indígenas para projetos de infraestrutura que afetem suas terras.
“Se o governo tá desrespeitando a lei, a Constituição, a Convenção169, tá desrespeitando também todos os caciques. E pra nós isso é questão de vida ou morte, porque a água é a nossa vida”, discursou. “Enquanto tiver cacique e tiver a Constituição, vamos lutar contra essas barragens”, finalizou.
A cidade dos antepassados mortos
Além da perda dos peixes e da navegação, bases da vida indígena,uma das questões mais graves para os índios é a destruição de três locais sagrados de suas crenças no rio Teles Pires: o Morro do Jabuti, o dos Macacos e um conjunto de cachoeiras conhecidas como Sete Quedas. Eles acreditam, segundo a tradição, que nesses locais vivem os antepassados mortos e que, se eles permitirem a violação, grandes tragédias se abaterão sobre a região. “Vai acontecer muita coisa ruim com branco e com índio, nós avisamos, mas branco é teimoso”, disse Walmar Munduruku.
“O branco tem seu patrimônio cultural dentro da cidade, o patrimônio cultural dos índios é nos campos, no mato, nas cachoeiras, no rio”,explicou Walmar. “As coisas aqui são sagradas, que nossos avós e Deus deixaram pra nós. Nas Sete Quedas onde estão os maiores peixes do mundo é onde mora também a Mãe dos Peixes”, relatou José Emiliano Munduruku.
Morro do Jabuti e Sete Quedas (acima): locais sagrados para os índios que deverão desaparecer por causa de usinas projetadas para o rio Teles Pires, na divisa do PA com MT
Ele explicou a crença deles sobre o local: “É por isso que os peixes vêm todo ano, para visitar as sete cachoeiras onde vive a mãe deles. Não pode mexer lá, se a gente deixar mexer, vai levar muita gente junto, porque embaixo das cachoeiras tem uma cidade que não é dos brancos, é dos índios. É a cidade para onde vão todos os índios mortos”, contou.
A importância religiosa e mitológica que os índios atribuem ao local coincide com a importância ecológica: nas sete cachoeiras enfileiradas, de fato, ocorre a desova de algumas espécies de peixes da região, como pacu, pirarara, matrinchã, pintado e piraíba, que chegam a medir até 2 metros.
Apesar dos apelos e temores dos índios, as cachoeiras de Sete Quedas no rio Teles Pires podem ser destruídas a qualquer momento, porque o Consórcio Construtor da Usina Teles Pires já começou a fazer explosões nessa área do rio, mesmo com a usina sendo questionada pelo Tribunal de Contas da União e por ação judicial do MPF. Entre as irregularidades apontadas, ainda não julgadas pela Justiça Federal de Belém, consta a falha dos Estudos em apontar todos os impactos.
No caso dos impactos sobre a reprodução e sobrevivência das espécies de peixes há sérios problemas nos estudos ictiológicos, que não chegaram a fazer observação em campo e foram considerados insuficientes pelo próprio Ibama.
No caso do patrimônio cultural indígena relacionado aos acidentes geográficos do Teles Pires, o problema é ainda mais grave. O governo brasileiro não se preocupou em identificar e estudar a importância cosmológica, mitológica e religiosa do rio, desrespeitando o direito dos índios à própria identidade cultural.
“Só vêm aqui falar sobre barragem”
Elenildo Kayabi acrescentou seu espanto com a rapidez dos projetos. “Eles estão atropelando a gente, quando começamos a entender a usina de Teles Pires, eles já vieram com a usina de São Manoel”, disse. E ironiza as soluções da engenharia para os problemas que as usinas vão causar: “falam pra gente que o peixe vai subir normalmente, que eles vão fazer elevador, a gente até faz piada com isso: se tem gente que se perde em elevador lá em Brasília, imagine os peixes aqui”.
“O governo e a Funai nunca vieram aqui falar sobre demarcação, saúde, educação. Só vêm aqui falar sobre barragem”, se admirou Floriano Munduruku. “A gente acredita que um dia vai ter um limite, branco vai parar, estudar outra forma de energia para deixar a gente em paz. Nossa vida era muito fácil, agora vai ficar muito difícil”, disse.
A revolta dos índios chegou ao ponto de, em outubro, fazerem reféns os sete funcionários que foram à aldeia Kururuzinho para falar de barragens. Os reféns chegaram a ser ameaçados de morte e foi construída uma gaiola no centro da aldeia para prendê-los se o governo não paralisasse o projeto da usina. A gaiola ainda está lá, como uma lembrança da revolta dos índios.
Sinais contraditórios
Depois que libertaram os reféns, com a presença do exército e da Polícia Federal, os Kayabi e os Munduruku foram levados para uma reunião em Brasília com representantes dos Ministérios das Minas e Energia, Meio Ambiente e Justiça. Eles exigiram a paralisação do processo de licenciamento das usinas, mas até hoje não receberam nenhum documento sobre a reunião.
Sinais contraditórios são emitidos de Brasília sobre a Usina de São Manoel, o estopim da revolta, projeto que estava previsto para entrar no próximo leilão de energia, e que incide diretamente sobre a Terra Kayabi. Para libertar os reféns, o governo prometeu adiar as audiências públicas, mas publicou o edital delas no Diário Oficial e recorreu contra a liminar do MPF que garantia o adiamento.
Depois de nova carta dos índios acusando o governo de traição, o Ibama voltou atrás e comunicou que as audiências estavam realmente adiadas. Elas não ocorreram no última dia 25 de novembro, como anteriormente previsto.
Mas, no dia 21 de novembro, no balanço do PAC apresentado pela ministra do Planejamento Miriam Belchior, a usina de São Manoel aparece como pronta para receber Licença Prévia até 30 de janeiro de 2012. E ainda não foi retirada do edital do leilão do próximo dia 20 de dezembro, que está no site da Agência Nacional de Energia Elétrica.
“Concordamos com os índios que a rapidez e o atropelamento do processo são assustadores”, diz o procurador Felício Pontes Jr., que acompanha o caso a partir de Belém. “Como o governo anuncia a data para uma usina receber licença prévia sem ter feito consulta ou sequer concluído os estudos dos impactos aos índios?”, pergunta a procuradora da República Márcia Zollinger, que atua em Mato Grosso.
Além das UHE São Manoel e Teles Pires, afetando diretamente as Terras Munduruku, Apiacá e Kayabi o governo projeta as usinas de Foz do Apiacás, Colíder e Teles Pires. Para nenhuma delas até agora foi feita consulta aos índios ou concluídos estudos de impacto sobre a vida deles.
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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Belo Monte: O anúncio de uma guerra
http://catarse.me/en/projects/459-belo-monte-anuncio-de-uma-guerra
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Contra o projeto de construção do complexo hidrelétrico de Belo Monte no rio Xingu BRASIL: Carta aberta e urgente a Dilma Rousseff
Entrevista especial com Felício Pontes Júnior
''É um desrespeito aos povos indígenas propor uma consulta após as obras estarem decididas''. Entrevista especial com Felício Pontes Júnior
“Considero desrespeito aos povos indígenas propor uma consulta feita após as obras estarem decididas”, disse Felício Pontes Júnior, procurador do Pará, ao comentar a decisão de procuradora do Supremo Tribunal Federal – STF, Maria do Carmo, que votou contra o reconhecimento de direitos indígenas no caso Belo Monte. Felício tem acompanhado de perto as decisões sobre a construção de Belo Monte e analisado os impactos que a obra irá gerar nas comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas que vivem nos entornos do rio Xingu. Para ele, a decisão da desembargadora põe em dúvida a eficácia da Constituição Federal e a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT.
Após ler o acórdão da decisão do STF, onde constam os argumentos da determinação, Felício Pontes Júnior concedeu a entrevista a seguir à IHU On-Line, por e-mail, e esclarece que “o acórdão consagra o fato consumado em direito ambiental, ou seja, diante da demora do próprio Judiciário em julgar o caso, como a obra está adiantada e existe vontade política do governo de fazê-la, o Judiciário lava as mãos e não pode fazer nada. É inacreditável, mas é esse um dos argumentos da decisão”.
De acordo com o procurador, “ao o rebaixar a consulta a uma questão menor, sem importância, o TRF1 na prática atenta contra a sobrevivência dos povos indígenas. O que vai ter reflexos gravíssimos muito em breve sobre as outras 20 hidrelétricas que o governo federal projeta construir na Amazônia até 2020”.
Felício Pontes Júnior é procurador da República junto ao Ministério Público Federal em Belém. Possui atuação nas áreas indígena, ambiental e ribeirinha, e é mestre em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Qual foi sua reação ao saber que a desembargadora do Tribunal Regional Federal – TRF1, Maria do Carmo, votou contra a realização da Consulta Prévia dos povos indígenas no caso de Belo Monte? O que a decisão dela significa e demonstra em relação ao direito dos povos originários?
Felício Pontes Júnior – Fiquei muito triste. O que essa decisão representa é que a Constituição brasileira não tem valor. Não vamos nos conformar com isso. Vamos até o Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição, para saber se, afinal, nossa Carta Magna ainda é válida no Brasil ou se foi revogada a parte que protege os índios, os quilombolas, os ribeirinhos e o meio ambiente.
IHU On-Line – Como explicar a decisão da desembargadora, se a Constituição Federal garante a participação dos povos originários em casos como o de Belo Monte?
Felício Pontes Júnior – Acabei de ler o acórdão dessa decisão, que é o documento final que resume os motivos e argumentos da decisão. E o acórdão consagra o fato consumado em direito ambiental, ou seja, diante da demora do próprio Judiciário em julgar o caso, como a obra está adiantada e existe vontade política do governo de fazê-la, o Judiciário lava as mãos e não pode fazer nada. É inacreditável, mas é esse um dos argumentos da decisão. Além da própria Constituição, a decisão do TRF1 viola a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, da qual o Brasil é signatário e que tem força de mandamento constitucional no território brasileiro. Não tenho como explicar essa decisão.
IHU On-Line – A desembargadora declarou que “pouco importa quando os índios serão ouvidos, se antes ou depois da autorização do Congresso”. Qual a importância deles serem ouvidos antes das obras iniciarem?
Felício Pontes Júnior – Considero desrespeito aos povos indígenas propor uma consulta feita após as obras estarem decididas. O sentido da convenção 169 e da proteção constitucional aos povos originários é que exista o consenso entre os povos indígenas e tribais e o governo central dos países onde vivem esses povos, em caso de empreendimentos que afetem diretamente seus territórios. Como sabemos, terra para índio não é a mesma coisa que para os não indígenas. Para eles, significa sobrevivência, não propriedade. Por isso é essencial a proteção oferecida pela Convenção, porque constitui a única maneira de garantir a sobrevivência desses povos. Ao rebaixar a consulta a uma questão menor, sem importância, o TRF1 na prática atenta contra a sobrevivência dos povos indígenas. O que vai ter reflexos gravíssimos muito em breve sobre as outras 20 hidrelétricas que o governo federal projeta construir na Amazônia até 2020.
IHU On-Line – Como as comunidades indígenas receberam a notícia de que desembargadora votou contra a audiência pública?
Felício Pontes Júnior – Com muita revolta. Tanto é assim que marcaram uma mobilização para esta semana e estão se dirigindo a Altamira lideranças indígenas de toda a região. A revolta também se espalhou por povos indígenas de outros rios, como os Kayabi, Munduruku e Kayapó no Teles Pires, na divisa do Pará com o Mato Grosso, que estão exigindo as oitivas, mas o governo se recusava a fazer. Estabeleceu-se uma negociação do governo com eles, mas ainda não temos segurança de que a consulta será realizada ou como será realizada, tamanha é a pressão do setor elétrico por leiloar mais hidrelétricas.
IHU On-Line – O que mudou em relação à construção de Belo Monte de acordo com o projeto inicial?
Felício Pontes Júnior – As mudanças foram provocadas pela intensa mobilização social dos povos da Transamazônica e do Xingu, incluindo índios, ribeirinhos e agricultores que, ao longo de 30 anos, resistem a esse projeto. Mas também possivelmente por um cálculo do setor elétrico de que, se Belo Monte for de fato construída e render menos energia do que se projeta, o que é muito provável, será mais fácil aprovar outras barragens à montante para regularizar o curso do rio. Nessa hipótese, a tragédia ambiental seria incalculável. Mas mesmo que apenas Belo Monte seja construída, o que se diminuiu em alagamento se compensou na seca da Volta Grande do Xingu, cuja água será 80% a 90% desviada para alimentar as turbinas da usina. Essa seca permanente que vai ser criada na região, considerada pelo próprio governo como de Importância Biológica Extremamente Alta, vai matar a vida na Volta Grande, o que inclui as terras indígenas Arara e Juruna e 273 espécies de peixes, alguns só existentes ali na Volta Grande. É importante desmistificar esse argumento de que a redução no alagamento representa tranquilidade para a região, porque as consequências da seca, em contrapartida, serão trágicas.
IHU On-Line – Como e quais comunidades indígenas serão afetadas pela construção de Belo Monte?
Felício Pontes Júnior – A Bacia do Xingu é habitada por 24 etnias que ocupam 30 Terras Indígenas – TIs, 12 no Mato Grosso e 18 no Pará. Todas essas populações seriam direta ou indiretamente afetadas à medida que o Xingu e a sua fauna e flora, além do seu entorno, forem alterados pela usina. Na região de influência direta da usina, três Terras Indígenas seriam diretamente impactadas: a TI Paquiçamba, dos índios Juruna, e a área dos Arara da Volta Grande, que se situam no trecho de 100 km do rio que teria sua vazão drasticamente reduzida e a área indígena Juruna do km 17, que fica às margens da rodovia PA-415, e seria fortemente impactada pelo aumento do tráfego na estrada e pela presença de um canteiro de obras. São considerados indiretamente afetadas, as TIs Trincheira Bacajá, Koatinemo, Arara, Kararaô, Cachoeira Seca, Arawete e Apyterewa, Xipaya e Kuruaya que sofreriam impactos como escassez de pesca, pressão de desmatamento, pressão da migração de não índios, pressão fundiária, epidemias como dengue e malária, entre outros.
Segundo o governo, há ainda registros de grupos indígenas isolados em três áreas do Xingu: na Terra do Meio, entre os rios Iriri e Xingu e a Transamazônica; entre os rios Iriri e Curuá e daí até a BR-163; e na Bacia do rio Bacajá. Trata-se de grupos que vêm sendo pressionados pelo avanço da ocupação da região e que, provavelmente, não suportarão por muito tempo, caso perdurem as condições e o ritmo atual desse avanço.
IHU On-Line – Quais são os limites de Belo Monte, considerando que a usina funcionará de seis a oito meses?
Felício Pontes Júnior – A usina ficará quase totalmente parada durante a seca no Xingu, que é conhecido como um dos rios do mundo com maior variação de vazão entre os períodos da cheia e da seca. Na seca, o Xingu raramente passa de 1000 m3/s, enquanto na cheia ele alcança até 27 mil m3/s. Com isso o empreendimento deverá passar pelo menos quatro meses por ano com as turbinas paradas. Nossa pergunta até hoje sem resposta é: como um empreendimento que ficará quatro meses parado pode ser lucrativo para a sociedade brasileira?
IHU On-Line – O que tem dificultado a regulamentação e aplicação do Direito de Consulta Prévia, Livre e Informada dos Povos Indígenas no Brasil? Por que no Brasil a sensibilidade às demandas indígenas ainda é baixa?
Felício Pontes Júnior – De um lado, atribuo à falta de interesse do governo federal em respeitar a Constituição e os tratados internacionais e, de outro, a invisibilidade dos povos indígenas. Para a maioria dos brasileiros, os indígenas ainda são considerados exóticos ou desconhecidos. Seus direitos, costumes, tradições não são levados em consideração porque, para isso, é preciso ter um novo olhar. Um olhar isento de preconceitos e tabus. E isso é muito difícil. Continuamos a ver os índios a partir de nossa concepção de mundo, e não da concepção deles.
IHU On-Line – Como avalia a postura da presidente Dilma, que já reiterou diversas vezes que Belo Monte será construída?
Felício Pontes Júnior – É exatamente a consequência de quem não possui o olhar diferenciado para os povos indígenas e, nesse caso, também de quem não procura ler as razões das universidades brasileiras que avisam ser Belo Monte uma usina deficitária.