terça-feira, 2 de outubro de 2012

Governo pede um mês para responder demandas de pescadores. Acampamento no Xingu continua

 
Publicado em 01 de outubro de 2012

Após reunião com membros do governo federal na última semana, os pescadores de Altamira que protestam contra o barramento do Xingu e a ausência de diálogo e indenização para a categoria, foram comunicados que o prazo para análise das demandas será de 30.
De acordo com Lucio Souza, representante da Colônia de Pescadores de Altamira, esta demora é uma afronta e pode colocar em risco a vida de ribeirinhos que moram em áreas de impacto das explosões das obras de Belo Monte. Há poucos dias, a Colônia recebeu a denúncia de uma senhora que pescava em frente a sua casa, quando a detonação num local lá perto soltou um pedregulho que quase a atingiu. “Isso é um perigo, a mulher podia ter morrido. Mas até agora a Norte Energia não apresentou nenhuma proposta para os ribeirinhos que moram nas ilhas próximas às explosões. É muito perigoso ficar, mas também não da pra sair, eles não tem pra onde ir. É um absurdo o governo pedir um mês pra responder questões que poderia resolver em uma semana. É um desrespeito!”, diz Lucio.
Nesta segunda, 01, o acampamento dos pescadores nas cercanias da ensecadeira do canteiro de obras Pimental completou 15 dias sem nenhum contato das autoridades federais, mas com recrudescimento de ações de pressão por parte do Consorcio Construtor Belo Monte (CCBM). Assediados constantemente pelos funcionários da empresa, os pescadores já mudaram cinco vezes o local do acampamento, que começou na ilha do Jatobá e se mudou para as ilhas do Cão, do João de Barro, do Veado e da Cutia, onde permanece desde o fim de semana.
“Hoje tivemos a informação de que os funcionários do CCBM foram la novamente, o helicóptero da policia fez novo sobrevôo, mas os pescadores resolveram enfrentar o assédio e permanecer no local”, afirma Antonia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre. Segundo ela, os pescadores não acreditam que o governo vá cumprir qualquer acordo que venha a ser feito, uma vez que quase nada do que foi combinado com os indígenas após a ocupação da ensecadeira, entre junho e julho,  foi encaminhado.
De acordo com funcionários da Funai, realmente as atividades referentes às condicionantes indígenas, bem como os trabalhos do órgão, estão praticamente parados. Após uma paralisação de dois dias na última semana em função da completa falta de estrutura para o desempenho das funções, os funcionários voltaram ao trabalho sob ameaça de ter o ponto cortado, mas nada do que foi reivindicado, em termos de melhorias das condições e da estrutura de trabalho, foi atendido. De acordo com os indígenas, além da quebra dos acordos pós-ocupação e o fim do Plano Emergencial, que destinava recursos para as aldeias até setembro deste ano, o Plano Básico Ambiental (PBA) indígena não vem sendo cumprido.
Pescadores buscam diálogo com indígenas
Uma das lideranças do acampamento dos pescadores, Cecílio Kaiapó, cuja família vive exclusivamente da pesca, tem iniciado um intercâmbio entre as aldeias indígenas e os pescadores para troca de impressões sobre a ameaça do barramento definitivo do Xingu e os abusos da Norte Energia. Enquanto isso, os acampados seguem conclamando a categoria dos pescadores para fortalecer os protestos. Abaixo, leia a carta circulada no fim da última semana:
Carta dos 13 pescadores
Nós, os 13 pescadores reunidos na Ilha da Cotia, falamos aqui de nossa resistência em defesa dos direitos de todos nós. Queremos pedir encarecidamente aos nossos amigos pescadores que se unam e compareçam para nos dar apoio na luta por seus direitos, assim como nós temos lutado.
Pelo amor a Deus, chamamos a todos para que venham nos encontrar e juntar-se a nós. Por amor aos seus filhos e netos,  que reajam em defesa dos seus direitos de pesca, antes que seja tarde demais e que o Xingu não dê mais peixe.
Aguardamos ansiosos a chegada de vocês para que juntos, com a força, a coragem e a fé de todos, possamos finalmente agir para garantir que sejamos ouvidos pela Norte Energia, pelo Consórcio Construtor Belo Monte e pela Presidência do Brasil.
Chamamos também os indígenas de toda a região a se unirem a nós nessa importante luta. E a todos os atingidos que puderem se dirigir para a Ilha da Cotia, pedimos que venham o mais rápido possível. E que todos nós estejamos juntos nesse momento.
Agradecemos a todos aqueles que nos tem apoiado e àqueles que nos apoiarão nesta causa de todos nós.
Os 13 pescadores.
Altamira, 28 de setembro de 2012.

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