http://www.xinguvivo.org.br/2013/02/25/funcionario-de-belo-monte-e-flagrado-espionando-reuniao-do-xingu-vivo-para-informar-bin/
Publicado em 25 de fevereiro de 2013
Na manhã deste domingo, 24, quando finalizava seu planejamento anual
em Altamira (PA), o Movimento Xingu Vivo para Sempre detectou que um dos
participantes, Antonio, recém integrado ao movimento, estava gravando a
reunião com uma caneta espiã.
Na caneta, o advogado do Xingu
Vivo, Marco Apolo Santana Leão, encontrou arquivos de falas da reunião,
bem como áudios de Antonio sendo instruído sobre o uso do equipamento.
Confrontado, ele a principio negou qualquer má intenção, mas logo depois
procurou o advogado para confessar sua atividade de espião contratado
pelo Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), responsável pelas obras da
usina, para levantar informações sobre lideranças e atividades do Xingu
vivo.
De livre e espontânea vontade,Antonio se dispôs a relatar os fatos em
depoimento gravado em vídeo. Segundo ele, depois de ser demitido pelo
CCBM em meados do segundo semestre de 2012, ele foi readmitido em
outubro como vigilante, recebendo a proposta de trabalhar como agente
infiltrado, primeiramente nos canteiros de obra para detectar lideranças
operárias que poderiam organizar greves.Em decorrência de seu trabalho, foram presos cinco acusados de ter comandado a última revolta de trabalhadores nos canteiros de Belo Monte, em novembro do ano passado. Sua atuação também levou à demissão de cerca de 80 trabalhadores.
Em dezembro, segundo o depoente,
ele passou a espionar o Xingu Vivo, onde se infiltrou em função da
amizade de sua família com a coordenadora do movimento, Antonia Melo.
Neste período, acompanhou reuniões e monitorou participantes do
movimento, enviando fotos e relatos para o funcionário do CCBM, Peter
Tavares.
Foi Tavares que, segundo Antonio,
lhe deu a caneta para gravar as discussões do planejamento do movimento
Xingu Vivo. O espião também relatou que este material seria analisado
pela inteligência da CCBM, e que, para isso, contaria com a participação
da ABIN (Agencia Brasileira de Inteligência), que estaria mandando um
agente para Altamira esta semana.
Após gravar este depoimento,
Antonio pediu para falar com todos os participantes do encontro do Xingu
Vivo, onde voltou a relatar suas atividades de espião, pedindo
desculpas e prometendo ir a público para denunciar o Consórcio
Construtor Belo Monte.
Em seguida, solicitou ao advogado
e à jornalista do movimento que o acompanhassem até sua casa, onde
queria acertar os detalhes da delação com a esposa. No local, ele se
ofereceu e apresentou seus crachás do CCBM, bem como a carteira
profissional onde consta a contratação pela empresa, que foram
fotografados.
Posteriormente, porém, a esposa
comunicou ao advogado do movimento que Antonio tinha mudado de ideia e
que não se apresentaria no Ministério Público Federal, como combinado.
Mais tarde, ainda enviou um torpedo ameaçador a um membro do Xingu Vivo.
No texto, ele disse que “vocês me ameaçaram, fizeram eu entrar no
carro, invadiram minha casa sem ordem judicial. Isso é que é crime. Vou
processar todos do Xingu vivo. Minha filha menor e minha mulher são
minhas testemunhas. Sofri danos morais e violência física. E vocês vão
se arrepender do que fizeram comigo”.
Em função de sua desistência de
cooperar e assumir seu crime, e principalmente em função da ameaça ao
movimento, o Xingu Vivo tomou a decisão de divulgar o depoimento gravado
em vídeo, inclusive como forma de proteção de seus membros.
Apesar da atitude criminosa de
Antonio ao se infiltrar no movimento, e apesar de não eximi-lo de sua
responsabilidade, o Movimento Xingu Vivo para Sempre entende que o maior
criminoso neste caso é o Consórcio Construtor Belo Monte, que usou de
seu poder coercitivo e financeiro para transformar um de seus
funcionários em alcaguete.
Também denunciamos que este
esquema é responsabilidade direta do governo federal, maior acionista de
Belo Monte. Mais execrável, porém, é a colaboração de agentes da ABIN
no ato de espionagem.
O Movimento Xingu Vivo para
Sempre, violado em seus direitos constitucionais e em sua privacidade,
acusa diretamente o governo e o Consórcio de Belo Monte por estes crime,
e exige do poder público que sejam tomadas as medidas cabíveis. É
inadmissível que estas práticas ocorram em um estado democrático de
direito. Exigimos justiça, já!
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