quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Carta de Dom Erwin Krautler Bispo do Xingu

Exmo. Sr.
Dr. Roberto Messias Franco
DD. Presidente do IBAMA
Altamira, 22 de outubro de 2009

Excelência,
Senhor Presidente do IBAMA,
caríssimo irmão,


Lembro vivamente a nossa viagem em 14 de setembro p.p. na META, de Altamira a Belém, quando estávamos sentados um ao lado do outro e, de repente, nos demos conta da função e do ministério que cada um exerce. V. Excia. ainda gentilmente me apresentou a advogada do IBAMA, Dra. Andrea.


Depois daquela viagem pensei entrar em contato com V. Excia. e marcar, se fosse possível, uma audiência para, à viva voz e olho no olho, tratarmos de assuntos que me preocupam imensamente em relação ao planejado AHE Belo Monte. O que me causa até insônias é a afirmação de V. Excia., veiculada pela imprensa, segundo a qual as quatro audiências públicas realizadas no Xingu e em Belém seriam consideradas suficientes para que a sociedade pudesse avaliar as consequências da obra planejada.


Peço vênia para divergir do posicionamento de V. Excia. Estou totalmente convicto de que a população do Xingu, que eu conheço muito bem, não teve nestas quatro audiências nem suficiente oportunidade de avaliar o projeto no que concerne às consequências irreversíveis nem o espaço necessário para manifestar seu ponto de vista. Tenho a impressão de que as audiências não passaram de mera formalidade. Na realidade, grande parte do povo que será atingido e impactado, se o projeto realmente for executado, ou não estava presente nas reuniões ou não conseguia manifestar-se. A maior parte do povo que será atingido vive muito distante da cidade.


Não seria mais humano ir até os lugares, por exemplo à Volta Grande, onde este povo vive e trabalha e onde realmente vai sofrer os tremendos impactos que modificarão toda a sua vida e a de suas famílias?


Não seria mais humano ir às aldeias para simplesmente ouvir o que os indígenas hão de dizer sem subjugá-los logo com uma ladainha já conhecida, mas até hoje não comprovada, de benefícios que o projeto vai trazer?


Não seria mais humano ir até às vicinais da Rodovia Transamazônica para encontrar-se com o povo da roça e ficar atento aos seus anseios e medos quanto à implementação de um projeto dessa magnitude?


Não seria mais humano ir para os bairros de Altamira que serão alagados para encontrar-se com o povo que está apavorado, pois seu futuro e o futuro de seus filhos está em jogo?
Não seria mais humano ir também aos municípios de Senador José Porfírio e Porto de Moz para ouvir o que a população, à jusante do rio Xingu, tem a dizer a respeito desse projeto que, em grande parte, secará seus rios?


Parece-me que até esta data somente as considerações e análises do setor energético do Governo estão sendo levadas em conta e pesam. No entanto há cientistas de renome nacional e internacional, estudiosos e peritos que se manifestam diametralmente opostos às ponderações daquele setor e comprovam cientificamente a inviabilidade socioambiental e até financeira do projeto. Os representantes do Governo, numa reunião realizada na casa da Prelazia em Altamira, até admitiram que os problemas não se situam na dimensão técnica, mas na dimensão socioambiental.


Ninguém duvida que o Brasil tem o know-how necessário para implantar Usinas Hidrelétricas, mas tenho absoluta certeza de que na dimensão socioambiental os estudos elaborados deixam muito a desejar e carecem de um maior aprofundamento, pois não se trata de máquinas e diques, de paredões de cimento e canais de derivação, mas de pessoas humanas de carne e osso, que conheço, de mulheres e homens, crianças, adultos e idosos, que sofrerão os impactos. Trata-se ainda do meio-ambiente, o lar que Deus criou para estes povos, que já começou a sucumbir fatalmente às inescrupulosas investidas de destruição e aniquilamento, tornando-se inabitável e deserto como já estou vendo em outras regiões do Xingu.


Eis a razão por que os movimentos sociais e povos indígenas da região da Transamazônica e do Xingu solicitaram ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA) a realização de 17 audiências públicas complementares.


Faço o meu apelo a V. Excia. e à sua formação cristã que não deixe de ouvir esse grito. Conheço o Xingu como a palma da minha mão. Conheço os povos do Xingu, de perto e pessoalmente, de inúmeros encontros, celebrações, reuniões e contatos, ao longo de 44 anos que aqui vivo, quase 30 dos quais como bispo. Amo esses povos e por isso entendo a minha missão de pastor como a missão de também irmanar-me com esses povos e seus movimentos e organizações na defesa do lar em que vivem e de seus legítimos anseios e suas esperanças contra agressões de qualquer tipo.


V. Excia. no cargo que ocupa e no ministério que exerce foi escolhido como guardião do Meio Ambiente. Faço votos de que sempre tenha a coragem e a força necessárias para tomar as decisões que, realmente e de modo sustentável, favorecem o Brasil e o seu povo.
V. Exci. poderá sempre contar com minhas orações.

Que Deus abençoe V. Excia. e sua família.

Cordialmente,
Erwin Krautler
Bispo do Xingu

O senador José Nery (PSOL-PA) critica a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte,.

O senador José Nery (PSOL-PA) voltou a criticar o processo de licenciamento ambiental que permitirá a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Ao discursar em Plenário, nesta quarta-feira (21), ele disse que o processo está sendo conduzido pelo governo federal "de forma açodada e autoritária".

José Nery argumentou que "não se trata de uma rejeição ideológica e apriorística ao aproveitamento do Rio Xingu [onde será construída a usina], mas sim de evitar um desastre socioambiental como o da Usina de Balbina, no Amazonas".

De acordo com o senador, o governo federal promoveu em setembro quatro audiências públicas "que, na verdade, representaram uma farsa marcada pela falta de transparência e pela presença da Força Nacional de Segurança, em aberto constrangimento aos que pretendiam criticar o projeto".

Ao comentar o Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) produzido para o licenciamento da obra, o parlamentar afirmou que esse relatório foi aprovado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) "sob evidente pressão da Presidência da República".

- O custo maior desse empreendimento será social e ambiental - alertou ele.

Segundo José Nery, a usina será construída "ao preço da destruição de um extraordinário monumento à biodiversidade, a Volta Grande do Xingu". Esse local, ressaltou ele, possui cachoeiras, corredeiras, arquipélagos e canais naturais rochosos. Além disso, mais de 20 mil pessoas teriam de ser deslocadas e populações indígenas de diversas etnias seriam "fortemente afetadas".

- A energia produzida em Belo Monte será destinada, quase que exclusivamente, às indústrias eletrointensivas do alumínio - protestou.

O senador destacou que um grupo de pesquisadores de várias universidades, nacionais e estrangeiras, apresentou suas críticas à obra por meio de um documento intitulado "Análise Crítica do Impacto Ambiental do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte", que foi anexado ao processo de licenciamento. Ele frisou ainda que o Ministério Público Federal no Pará interpôs diversas medidas visando suspender o processo.

Da Redação / Agência Senado
Foto: Agência Senado

''O projeto de Belo Monte deve ser abandonado''. Entrevista especial com Francisco Hernandez


''O projeto de Belo Monte deve ser abandonado''. Entrevista especial com Francisco Hernandez

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Um painel formado por 40 especialistas - entre engenheiros, sociólogos, antropólogos, biólogos, ecólogos, cientistas políticos - acaba de lançar um documento analisando o projeto hidrelétrico de Belo Monte, cujo leilão, segundo o governo federal, sai em novembro deste ano. Um dos coordenadores desse painel é o engenheiro elétrico Francisco Hernandez. Ele concedeu a entrevista à IHU On-line, por telefone, onde afirma que "os problemas identificados são de várias ordens. Alguns foram identificados na própria metodologia em que estudos foram feitos no EIA/Rima, ou seja, problemas de subestimação da população atingida e das consequências sobre a biodiversidade da região", afirma.

Francisco Del Moral Hernandez é pesquisador do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo. É graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas e mestre em Interunidades em Energia pela USP.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - O senhor é um dos coordenadores do grupo de 40 especialistas que acaba de lançar um estudo analítico sobre projeto hidrelétrico de Belo Monte. Como esse grupo se organizou e qual é a sua composição técnica?

Francisco Hernandez - A origem desse trabalho veio de uma demanda do movimento Xingu Vivo para Sempre que foi o mesmo grupo que fez aquele evento em maio de 2008, na cidade de Altamira. Então, foi uma demanda dos movimentos sociais de Altamira no sentido de realizar uma pesquisa aprofundada do estudo de impacto ambiental de Belo Monte.

Temos 42 pesquisadores de várias universidades brasileiras, fizemos um conjunto de 22 pareceres que compõem o documento. Nesse grupo, existem engenheiros, sociólogos, antropólogos, biólogos, ecólogos, cientistas políticos. Ou seja, uma grande variedade de disciplinas.

IHU On-Line - Quais são as principais conclusões do Estudo sobre o projeto hidrelétrico de Belo Monte?

Francisco Hernandez - Os problemas identificados são de várias ordens. Alguns foram identificados na própria metodologia em que estudos foram feitos no Estudo de Impacto Ambiental, ou seja, problemas de subestimação da população atingida e das consequências sobre a biodiversidade da região. Um aspecto que nos chama muito a atenção é que existe uma região da Volta Grande do Xingu, da barragem principal, que é desconsiderada do EIA/Rima. Essa é a região chamada de trecho de vazão reduzida. Cerca de 3/4 desta região ficaria submetida a uma escassez hídrica muito drástica. Associado a isso, existem todos os problemas da perda da biodiversidade dessa região que é considerada uma das maiores biodiversidades do mundo. E existem as consequências sociais sobre as populações que residem naquela região e teriam seus modos de vida drasticamente modificados pela diminuição do lençol freático, dos níveis de água e vazão desse trecho de rio. Essa região foi negligenciada pelo Estudo de Impacto Ambiental que considerou como populações atingidas apenas aquelas que teriam suas terras alagadas ou afetadas pela construção física dos canteiros de obras, diques e barragens. Essa lacuna no Estudo de Impacto Ambiental precisa ser recuperada, são problemas que deveriam ser reparados.

IHU On-Line - Dentre as várias conclusões, qual delas o senhor considera a mais impactante?

Francisco Hernandez - As apontadas acima são gravíssimas porque é um desrespeito a uma região de biodiversidade tremenda na Volta Grande. Existem outros aspectos que chamam a atenção e nos preocupam. Por exemplo, em termos técnicos, a potência instalada na Usina de Belo Monte está muito aquém à energia que poderia ser efetivamente gerada em função da dinâmica do próprio rio Xingu. Como todos nós sabemos, o rio Xingu tem uma dinâmica hidrológica que flutua muito durante o ano. Existem períodos em que a vazão é de 25 metros cúbicos por segundo, mas pode ir para 400 metros cúbicos por segundo. Existe a possibilidade real de que em algumas épocas do ano essa vazão essa diferença aumente ainda mais. Com isso, teríamos uma situação em que a casa de força principal não teria vazão suficiente para turbinar a queda de força principal. Existe um problema de uma ociosidade operativa que nos preocupa.

IHU On-Line - O movimento social considera o projeto economicamente, socialmente e ambientalmente devastador. Qual dos três fatores [social, econômico e ambiental] o senhor considera o mais grave?

Francisco Hernandez - Nós fizemos uma leitura sobre o Estudo de Impacto Ambiental. Nos primeiros volumes dele, aparecem considerações mais técnicas. Nós nos debruçamos sobre isso e identificamos vários problemas. Nós também nos debruçamos sobre aspectos de levantamento de problemas socioambientais. Um exemplo: essa obra estaria localizada numa região de biodiversidade muito grande. No interior da Volta Grande do Xingu está prevista a construção de três canais e a formação de cinco represas. Tudo isso numa região onde existe agricultura, pecuária e um grande número de igarapés que são o sustentáculo dos modos de vida dessas populações. O conjunto do volume de escavação dessa obra é semelhante dos volumes retirados e movimentados para a construção do Canal do Panamá. Isso é real. Esse conjunto de obras civis nessa região proporcionaria consequências muito graves sobre as populações ali residentes. Existe, portanto, uma subestimação da população atingida. Normalmente, pelos critérios da Eletrobrás, a população atingida seria aquela que teria suas terras alagadas. Esse é um conceito tradicional da história da energia brasileira. É como se houvesse, do inicio ao fim do Estudo de Impacto Ambiental, uma justificativa de que Belo Monte é uma das obras hidrelétricas com menor impacto socioambiental na história de construção de barragens do Brasil. E isso não é verdade.

IHU On-Line - A hidrelétrica é considerada indispensável pelo governo para garantir a oferta de energia para a expansão da economia brasileira. Como o senhor responde a essa afirmação?

Francisco Hernandez - Essa ociosidade operativa da usina é um problema. Como podemos pensar numa usina que tem 11 mil megawatts de potência instalada e que oferece, em termos de potência média, o equivalente a 1400 megawatts, de acordo com simulações feitas em 2003 pela Unicamp? Se o problema é a oferta de energia, a usina de Belo Monte não será capaz de atender essa potência instalada. Por isso, alertamos que a usina de Belo Monte é um convite a barramentos futuros, mesmo que o Conselho Nacional de Política Energética tenha dito que não serão feitos mais barramentos no rio Xingu. Nós temos uma folga, em termos de planejamento energético, que nos permite pensar o planejamento energético sob uma ótica de uma avaliação da demanda por energia. Temos a possibilidade de pensar o planejamento energético não unicamente como o atendimento, aumento ou expansão da oferta.

IHU On-Line - Há unanimidade entre os especialistas de que a hidrelétrica é desnecessária? Quais são as alternativas propostas?

Francisco Hernandez - O painel de especialistas analisou os vários volumes do EIA/Rima. Todos os pareceres são no sentido de caracterizar a obra como grande equívoco. É claro que cada um se debruçou sobre a sua especialidade. Então, eles, em geral, alertaram que Belo Monte alterará a dinâmica do rio Xingu e, com isso, a dinâmica da vida das espécies, as relações humanas que se servem dessas espécies. A conclusão em cada uma das especialidades dá um recado: Devemos abandonar essa ideia do projeto de Belo Monte.

Nos primeiros volumes do estudo de impacto ambiental existe, teoricamente, o espaço para os empreendedores para mencionar e descrever alternativas à obra. Mas eles também falam que, diante do estrangulamento que o Brasil vive, o projeto de Belo monte é necessário.

IHU On-Line - O Estudo será objeto de debate com o governo?

Francisco Hernandez - Nós produzimos o formato final dentro daquele período de 15 dias úteis após a audiência pública, protocolamos junto ao IBAMA e recebemos com estranheza a notícia de que Roberto Messias, presidente do Ibama, afirmou que nenhum questionamento tinha sido feito após as audiências públicas, e solicitamos uma retificação dessa informação. O IBAMA, como um instituto que está se debruçando sobre o processo de licenciamento, tem em mãos este questionamento. Nós colocamos em várias redes, oferecemos publicamente o release, o resumo executivo e o relatório completo, e estamos fazendo nossos debates públicos. Também protocolamos o documento junto ao Ministério Público Federal de Altamira para que acompanhe esse processo no sentido de que o IBAMA dê respostas aos questionamentos que colocamos. Também fizemos uma reunião com o presidente Lula em que alguns desses alertas foram identificados. Nós temos a expectativa de fazer mais divulgações especificamente na região afetada diretamente e de divulgar esses resultados junto ao movimento social e entidades ambientalistas. Esperamos que, com a divulgação pública dos nossos estudos, consigamos deixar essa discussão um pouco mais ampla e colocá-la no debate público.

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Inserida por: Administrador

fonte: IHU

Retirado do site: http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=4212&eid=142

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

CONVITE

O povo Caiapó, liderado pelo Cacique Raoni Metuktire, em repúdio às declarações ofensivas do Ministro Edson Lobão, convida todas as lideranças Indígenas, Ministério Publico Federal, Entidades de Direitos Humanos, Ambientalistas, Organizações não Governamentais e Imprensa em geral, para manifestação contra a construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte, a ser realizada de 28/10 a 04/11/2009 no PIV Piaraçú, TI Capoto/Jarina, entroncamento entre o rio Xingu e a MT 322, antiga BR 80.
Estará sendo aguardada a presença dos Ministros de Minas e Energia e Meio Ambiente, alem dos Governandores dos Estados do Mato Grosso e Pará. O não comparecimento dessa autoridades implicará no fechamento da Balsa da travessia do Rio Xingu na MT 322 antiga BR 80, trecho que liga os Municípios de Matupá e São Jose do Xingu no Estado do Moto Grosso.

Colider-MT, 14 de Outubro de 2009.

Atenciosamente

INSTITUTO RAONI

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

CARTA A BELO MONTE



Ao Exmo. Ministro do Meio Ambiente, Sr.Carlos Minc
cc. Exmo. Presidente da República, Sr.Luis Inácio Lula da Silva
cc. Exmo. Presidente do IBAMA, Sr.Roberto Messias Franco

Manaus, 09 de Outubro de 2009

Ref.: Licenciamento ambiental da Hidrelétrica de Belo Monte.

Excelentíssimo Senhor,

No dia 15 de setembro, foi realizada em Belém, no Estado do Pará, a última das quatro audiências públicas previstas no processo de licenciamento ambiental do projeto de Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte. Um representante do Greenpeace tentou participar da audiência, mas ele e centenas de pessoas, representantes de ONGs, movimentos sociais, lideranças indígenas e pesquisadores foram impedidos de entrar no local. A alegação dos policiais que bloqueavam a entrada era de que a sala já estava lotada. O Ministério Público Federal se retirou do local no meio da audiência, em solidariedade ao direito dos povos indígenas e das populações locais de participarem do processo.

Contrariando a resolução CONAMA No 9 de 1987, dez dias antes de expirado o prazo, a primeira audiência já havia sido marcada sem considerar a possível demanda de outras audiências por parte da sociedade civil. E, de fato, 17 solicitações de audiências públicas foram encaminhadas ao IBAMA, todas, ao que consta, sem resposta até o momento.

O Diário Oficial da União tornou o EIA/RIMA público no dia 25 de Maio, mas ele só foi disponibilizado na internet no dia 25 de Julho e a primeira audiência foi em 10 de Setembro. O prazo de 45 dias dado pelo órgão ambiental para que os interessados acessassem e tomassem conhecimento do EIA/RIMA, aliado à complexidade dos referidos estudos, certamente dificultou uma análise criteriosa de seu conteúdo. O IBAMA, por exemplo, com todo o seu aparato técnico, estabelece um prazo de até seis meses para a análise de estudos de impacto ambiental.

Apesar do tempo exíguo, especialistas de diversas áreas do conhecimento e as entidades representadas no Movimento Xingu Vivo protocolaram, dentro do prazo estabelecido, documentos com questões ainda sem resposta e parecer técnico sobre o EIA/RIMA respectivamente nas sedes do IBAMA de Belém e Altamira. No entanto, em entrevista ao Valor Econômico do dia 7 de outubro, o presidente do IBAMA, Roberto Messias negou a existência de tais documentos.

A declaração de Messias levou o Ministério Público Federal de Altamira (PA) a enviar recomendação ao Ibama para que dê publicidade a esses documentos. Todos os questionamentos e dados protocolados devem ser encaminhados ao MPF e disponibilizados para toda a sociedade através da internet, diz nota do MPF de Altamira. Essa demanda reforça o fato de que, como vem sendo conduzido, o processo de licenciamento ambiental previsto em Lei não está sendo respeitado.

Em conversa com representantes de movimentos sociais do Xingu, procuradores da República e o bispo da Prelazia do Xingu Dom Erwin Kraütler, no último dia 22 de Julho, em Brasília, o Senhor Presidente da República afirmou que não iria “empurrar o projeto (de Belo Monte) goela abaixo” da sociedade civil. Com a certeza de que este compromisso será cumprido, pedimos encarecidamente uma atenção especial a esta questão.

Esta é uma luta de 20 anos das comunidades que habitam a bacia do Rio Xingu e seus afluentes. Estima-se que mais de 20 mil pessoas serão desalojadas pelo empreendimento, incluindo populações indígenas que vivem há centenas de anos nestas áreas. Lideranças locais, pesquisadores e técnicos envolvidos na discussão há anos consideram que o projeto representa uma ameaça concreta à sobrevivência física e cultural destes povos e, se instalado, afetará definitiva e irremediavelmente o equilíbrio ecológico de uma vasta região de alta importância para a conservação da biodiversidade, ferindo de morte os princípios
constitucionais dos artigos 255 e 231 da nossa Constituição.

Estas pessoas precisam ser devidamente ouvidas, suas duvidas devidamente esclarecidas e o impacto direto em mais de 150 mil hectares de floresta na Amazônia precisa ser discutido sob a ótica da atual crise climática e das metas de redução de desmatamento apresentadas pelo governo federal nas reuniões preparatórias para a Convenção da ONU sobre clima, que será realizada em dezembro, na Dinamarca.

Contando com o seu apoio a um debate amplo e democrático sobre a construção da usina de Belo Monte, pedimos que o poder público reveja a forma equívoca como esse processo está sendo conduzido e promova uma nova rodada de audiências, permitindo que todos os interessados tomem conhecimento do conteúdo do EIA/RIMA e possam discutir e opinar sobre a execução ou não do projeto, conforme prevê a legislação brasileira.

Agradecemos a sua atenção.

Paulo Adário
Diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace

Sérgio Leitão
Diretor de Campanhas do Greenpeace

domingo, 11 de outubro de 2009

Moção de solidariedade aos povos originários e às populações tradicionais do Xingu, contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte

Nós, movimentos sociais, organizações e redes da sociedade civil, reunidos no seminário “Clima e Floresta em debate: REDD e mecanismos de mercado como salvação para a Amazônia?” expressamos nossa solidariedade às lutas dos povos originários e das populações tradicionais do Xingu, em resistência à construção da Usina Hidrelétrica (UHE) de Belo Monte.

No momento em que a comunidade internacional se prepara para debater soluções para o aquecimento global no âmbito da COP 15 na Dinamarca, incluindo a discussão sobre mecanismos para a preservação das florestas como meio de redução das emissões de gases de efeito estufa, denunciamos que a Amazônia é hoje alvo de grandes projetos de infraestrutura, que agravam a degradação do meio ambiente e aprofundam o modelo de desenvolvimento responsável pelas mudanças climáticas.

Neste contexto, condenamos particularmente os projetos de grandes usinas hidrelétricas como alternativas de energia limpa, como é o caso do projeto de construção da UHE de Belo Monte sobre o Rio Xingu. O discurso utilizado para legitimar projetos de construção de barragens, considera apenas o metano emitido na superfície do lago, sem sequer mencionar as emissões das turbinas e vertedouros. Esta é uma distorção ainda mais grave no caso de Belo Monte do que para outras barragens, uma vez que, do modo como está planejado o projeto, haverá um grande volume de água passando pelas turbinas, o que leva a uma maior emissão de gases.

A energia que será gerada em Belo Monte, atenderá, sobretudo, à demanda de grandes empresas eletro-intensivas, que contribuem para a destruição da Amazônia em nome do saqueio e da exportação de nossos recursos naturais. Enquanto isso, por exemplo, aproximadamente onze mil famílias da Reserva Extrativista Verde Para Sempre, localizada no município de Porto de Móz, permanecerão sem acesso à energia elétrica. A construção de Belo Monte atingirá 13 municípios e 18 aldeias indígenas e representa uma ameaça ao modo de vida dos povos originários e das populações tradicionais da Amazônia, verdadeiros interessados na preservação da floresta, bem como às suas culturas ancestrais. Trata-se, portanto, de um potencial crime sócio-ambiental, que ampliará a dívida social e ecológica da qual os povos amazônidas são credores.

Condenamos ainda a criminalização dos movimentos sociais que há mais de 20 anos vem resistindo contra a construção da UHE Belo Monte, e cujas lideranças vem sofrendo um agravamento das difamações e ameaças de execução desde a intensificação do debate em volta da construção da usina.

Os problemas enfrentados no esforço de preservação da Amazônia são graves e urgentes, mas não podemos nos deixar enganar por falsas soluções imediatistas. Só uma grande aliança firmada entre os povos da floresta será capaz de barrar a ofensiva do grande capital sobre a Amazônia. Belo Monte não passará!

Belém, 03 de outubro de 2009

O Timão-mor deste Blog

Com este título, o Comitê Metropolitano do Movimento Xingu Vivo para Sempre inicia em Belém um enfrentamento pela vida. E a vida que defendemos mostra seu rosto na defesa por um Xingu vivo e livre de uma hidrelétrica que em todos os aspectos se mostra um atentado contra a vida dos povos da floresta, povos que já são vítimas de outras políticas de iniciativa pública ou privada naquela região. No entanto, a vida que defendemos extrapola esse âmbito regional e se torna um grito de liberdade, de independência - o verdadeiro grito de independência - de toda voz amazônida que reage contra os grilhões de colônia que encadeiam nossa floresta. A vida que defendemos extrapola também o âmbito da Amazônia e se torna a voz de todo e qualquer cidadão e cidadã, adulto, jovem e criança que se sente sufocado diante dos atentados que sofre nosso meio-ambiente, o ar da nossa vida, o céu de nossas estrelas, a água indispensável de nossos dias.
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