sexta-feira, 30 de abril de 2010

O que dizer sobre a Hidroelétrica de Belo Monte ?

Sonia Guajajara
Vice- coordenadora da Coiab

Um grande projeto econômico do governo que prevê a morte de milhares de pessoas, sim, porque autorizando a construção desta represa o governo está assinando um decreto coletivo de assassinato.
Não sou especialista, nem cientista para apresentar aqui números e dados sobres os prejuízos e danos que causarão a população, mas falo com a sabedoria de uma mulher indígena que vem da floresta e reconhece os valores das riquezas naturais para o nosso povo e para o mundo.
Lutar contra Belo Monte é lutar em favor da vida. Dizem que este projeto trará grandes benefícios a região e utilizam –se destes argumentos para enganar lideranças, pois sabemos que isso é uma grande mentira. Essa usina hidrelétrica servirá apenas para enriquecer um pequeno grupo de empresários, que destroem e poluem o planeta.
Por isso somos contra qualquer projeto econômico que enriqueça a poucos e mata milhões de pessoas.
Não entendemos como o governo brasileiro pode sair pelo mundo afora anunciando e pregando noticias de redução de gases de efeito estufa, se todos os seus projetos políticos de desenvolvimento são baseados em mais dinheiro para empresas poluidoras, mais desmatamento com a valorização do agronegócio e alteração do código florestal e mais consumo.
Vamos lutar com todas as forças contra a implantação desta construção, o governo já realizou o leilão e aprovou, e com este ato inicia-se uma grande guerra no Brasil, porque estamos dispostos a lutar, resistir, como sempre resistimos durante mais de 500 anos de massacre e opressão.
Estamos aqui em número reduzido de pessoas, mas falamos em nome de todos aqueles que estão lá se preparando para enfrentamento, porque a bandeira de guerra foi declarada.
O mundo precisa de pessoas que abrace a causa da preservação do planeta, e Belo Monte construído, abrirá precedentes para uma afinidade de outros empreendimentos deste porte na Amazônia e como o mundo é redondo tudo está interligado, e tudo que afetar o solo, o ar, a água afetará também os filhos da Terra, e o mundo inteiro estará em perigo.
As mudanças climáticas já não podem mais ser citadas simplesmente como uma questão de clima, mas, agressões climáticas causadas pela ganância e ignorância do homem.
O governo Lula que se dizia democrático e popular é o que mais tem violado direitos, e não somente Direitos Indígenas, mas Direitos Humanos em geral.
Não podemos permitir que este governo tenha sucessão política, porque assim, estamos permitindo a continuação do projeto que destroem o Brasil DILMA VEZ.
Pedimos a todos que abracem esta causa como uma causa própria e ajude a divulgar e denunciar a violação de Direitos, e assim, estaremos defendendo junto o planeta.
Não somos contra o desenvolvimento como disse o Ministro Edson Lobão, que vê em nós, forças demoníacas que impedem o crescimento do país, mas somos contra esse modelo de desenvolvimento, que destrói a biodiversidade, seca as águas, inundas as vidas e mata culturas.
Convido a todos, a defender a vida e salvar o planeta.


Encontro Mundial dos Povos sobre mudanças climáticas e direitos da Mãe Terra – Cochabamba – Bolívia – 19 a 23 de Abril de 2010

Dia dos Trabalhadores é marcado por protesto contra Belo Monte

No Dia em que o mundo comemora o Dia do Trabalhador, em 1º de maio, o Comitê Xingu Vivo para Sempre, Intersindical, Conlutas, MST e Via Campesina convocam a todos e todas trabalhadores (as) a participar do ato público “Em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras e contra Belo Monte”.

A concentração será a partir das 8h30 na Praça do Operário, em São Brás, e seguirá rumo à Praça da República, em Nazaré.

Vamos demonstrar nossa força e disposição em defesa dos trabalhadores (as) e contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte no Rio Xingu, no Pará.

Vamos velar nossas faixas, flâmulas, bandeiras e etc. para fazermos um belo visual.

terça-feira, 27 de abril de 2010

MTV debate hoje sobre Belo Monte nesta terça (27)

Nesta terça, dia 24 de abril, às 22h30, haverá um debate na MTV sobre a Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O companheiro Rogério Hohn, militante do MAB no Pará, será um dos debatedores.
Acompanhem e, se puderem, deixem a opinião sobre a barragem no site:
http://mtv.uol.com.br/debate/mural

Fonte: Comunicação/MAB

CARTA DO MEGARON PARA A IMPRENSA

Comunicado

Nós lideranças e guerreiros estamos aqui em nosso movimento e vamos continuar com a paralisação da balsa pela travessia do rio xingu. Enquanto Luiz Inacio Lula da Silva insistir de construir a barragem de Belo Monte nós vamos continuar aqui. Nós ficamos com raiva de ouvir Lula falar que vai construir Belo Monte de qualquer jeito, nem que seja pela força!!! Agora Nos indios e o povo que votamos em Lula estamos sabendo quem essa pessoa. Nós não somos bandidos, nós não somos traficantes para sermos tratados assim, o que nós queremos é a não construção da barragem de Belo Monte. Aqui nós não temos armas para enfrentar a força, se Lula fizer isso ele quer acabar com nós como vem demonstrando, mas o mundo inteiro vai poder saber que nós podemos morrer, mais lutando pelo nosso direito. Estamos diante de um Governo que cada dia que passa se demonstram contra nós indios. Lula tem demonstrado ser inmingo número um dos indios e Marcio Meira o atual Presidente da Funai tem demostrado a ser segunda pessoa no Brasil contra os indios, pois, a Funai não tem tratado mais assuntos indigenas, não demarcação de terra indigena mais, não tem fiscalização de terra indigena mais, não tem aviventação em terra indigena. Os nossos líderes indigenas são empedido de entrarem dentro do predio da funai em Brasilia pela força nacional. O que esta acontecendo com nós indios é um fato de grande abandono, pois, nós indios que somos os primeiros habitantes deste pais estamos sendo esquecidos pelo Governo de Lula que quer a nossa destruição, é esta aconclusão que chegamos.

Lider indigena Megaron Txukarramãe

Aldeia Piaraçu, 26 de abril de 2010

Carta para empressa

domingo, 25 de abril de 2010

Lula, os esperneios e o apagão

Tal como nos palanques eleitorais de outrora, o presidente da República tem se manifestado enfaticamente, falando contra supostos opositores de seus projetos de governo que, para ele, torcem para que tudo dê errado. As críticas ao projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA), seriam, conforme declarou o Advogado-Geral da União, Luis Inácio Adams simplesmente, “esperneios de perdedor”.

Lula, por sua vez, reclama: “essa gente, desde que eu tomei posse em 2003, eles levantam de manhã e vão dormir à tarde fazendo figa para que tenha um apagão neste país, para eles poderem dizer que o governo foi incompetente na questão energética”.

Talvez o presidente da República já tenha se esquecido o significado da palavra democracia, e das inevitáveis relações de força quando se trata de assegurar um verdadeiro e amplo diálogo. E ele se esqueceu, possivelmente, porque vive cercado de pessoas que a tudo dizem sim! E nestes tempos de declarada campanha para a candidata Dilma Rousseff, muitos membros do governo – inclusive antigos assessores de movimentos combativos que marcaram a história desse país – exercem hoje a contraditória função de abrandar os ânimos daqueles que esboçam insatisfações, de barganhar apoios e também de impedir que certos canais de comunicação alternativos manifestem abertamente críticas ao modo “lulista” de governar.

A execução do que, nos vergonhosos tempos da ditadura, se poderia chamar de “serviço sujo” e controle de informações, hoje é feito de modo voluntário por muitos ex-militantes de movimentos populares que conhecem por dentro as estratégias de resistência e de luta indígena, popular e campesina. Nas palavras do presidente, “Belo Monte, Jirau e Santo Antônio são coisas que nossos adversários torcem para não dar certo”. Mas, quem seriam os supostos adversários?

Ao que tudo indica, não são os partidos de oposição ao governo – se é que se pode falar em oposição nas atuais circunstâncias – os que apresentam resistências a estas usinas e ao projeto de expansão energética. A verdadeira oposição vem de alguns movimentos populares, dos povos indígenas, de setores progressistas da Igreja, em suma, daqueles que o presidente Lula chama de “adversários” e que, de fato, são os que resistem e se opõem a um projeto de desenvolvimento unilateral e contrário à vida.

A palavra sustentabilidade, que irrompe em nosso cotidiano desde a década de 1990, é hoje central em qualquer projeto que se planeje implementar. Mas quando se pretende consolidar uma plataforma grandiosa para a futura candidata ao Governo Federal, que conta com o apoio declarado do presidente, os custos sociais, ambientais e éticos, se convertem em questões “menores”.

Se a preocupação do governo fosse, efetivamente, evitar um apagão, este teria que ouvir as diferentes propostas de setores sociais dedicados ao estudo de questões energéticas – um debate amplo que se realiza em diferentes meios de comunicação, em universidades, em institutos de pesquisa, no Brasil e no mundo.

Não há consenso nem mesmo em segmentos do governo, sobre os caminhos escolhidos para assegurar a oferta de energia no futuro e evitar um suposto “apagão”. Há grupos que defendem a construção prioritária de hidrelétricas, solução mais fácil, e que, de quebra, possibilita que se arrolem recursos públicos para beneficiar empresas privadas (e não é por acaso que os empresários e os banqueiros estejam entre os que mais exibem seu contentamento e não poupam elogios à política econômica de Lula).

Outros grupos, dentro do próprio governo, apostam em fontes alternativas de produção energética, tal como a eólica, que em alguns países é responsável pela oferta de aproximadamente 40% da energia distribuída. Outros, ainda, defendem a necessidade de melhorar o aproveitamento das fontes já existentes, evitando desperdícios, por exemplo.

Há uma infinidade de estudos mostrando alternativas viáveis para contornar os riscos de escassez de energia, mas todo esse debate, bem como as divergências quanto aos melhores caminhos para assegurar o crescimento do país não interessa, neste momento, ao presidente Lula. Ele celebra as “vitórias” contra os supostos adversários, ele declara seu descontentamento com aqueles que se opõem aos seus imponentes projetos.

Iniciativas para evitar que se realizasse o leilão de concessão da Usina de Belo Monte foram tomadas por diferentes setores, incluindo o Ministério Público Federal, tendo em vista várias irregularidades tão bem demonstradas nas ações ajuizadas em todo o processo. Mas, para o Advogado-Geral da União, aqueles que entraram com ações judiciais desejavam “criar nuvens de suspeitas” sobre a construção desta obra – como se ela não fosse uma das mais polêmicas obras desde os anos 1980 e como se tal discordância fosse expressão de um capricho de ONGs que atuam no país.

No mesmo tom, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Gilmar Mendes, afirmou que o Ministério Público não deveria servir aos interesses de ONGs. Para ele “é preciso ancorar esse debate sem paixão. É comum que ONGs façam cooptação do MP para as suas teses” (Ongs que, ressalta ele, são financiadas por empresas internacionais). E os velhos fantasmas da internacionalização ressurgem vigorosos – em outras palavras, quem não é favorável aos projetos do presidente, é contra a nação, e a semelhança com discursos de tempos de autoritarismo não parece ser coincidência.

Neste “belo monte” de argumentos que defendem a hidrelétrica como algo inevitável, não se permite falar claramente do desmatamento de 118 km2 de floresta, ou do represamento de uma área superior a 516 km2, ou da emissão de gás metano (e do efeito estufa) e menos ainda, da imensa área que estará sujeita à seca e que hoje possibilita a existência de incontáveis espécies vivas, que o presidente costuma referir, pejorativamente, como “alguns bagres” ou “algumas pererecas”, coisinhas insignificantes diante do fascínio de tão grandiosa obra.

Para Lula, as pessoas que dizem que a usina terá grandes impactos ambientais não conhecem o projeto, ou são mal intencionadas, ou são os tais “adversários políticos” que desejam o apagão. Mas vale ressaltar que não faltam desencontros quando se apresentam dados sobre a usina: ela é orçada, pelo governo, em cerca de R$ 19 bilhões, mas a iniciativa privada afirma que os custos ficarão entre R$ 23 bilhões e R$ 30 bilhões. Neste sentido, uma nota técnica elaborada por duas estatais de energia do grupo Eletrobrás, Furnas e Eletrosul, indicou que a construção desta usina é um mau negócio, e custará R$ 28,5 bilhões - bem acima, portanto, da previsão oficial.

Além disso, o consórcio vencedor poderá contar com financiamento de até 80% do valor do empreendimento, concedido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), sem falar dos descontos que chegam a 75% no Imposto de Renda durante 10 anos.

O quadro se torna ainda mais crítico quando comparamos o pacote de incentivos à construção de Belo Monte com outros investimentos do governo Lula. A construção da usina implicará em gastos públicos (ou em recursos que o governo deixará de arrecadar) na ordem de R$ 6 bilhões, quase 02 vezes o valor orçado para o Ministério do Meio Ambiente, que é de pouco mais de R$ 3,5 bilhões; quase 04 vezes o orçamento do Ministério dos Esportes, de R$ 1,6 bilhões; mais que todo o orçamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário, de R$ 5,7 bilhões; ou quase 03 vezes o orçamento do Ministério da Cultura, de R$ 2,2 bilhões. Belo Monte significa, em termos orçamentários, 454 vezes o orçamento destinado à erradicação do trabalho escravo no país, e 184 vezes o orçamento para Demarcação e Regularização de Terras Indígenas, que soma R$ 32 milhões.

Se o governo está disposto a gastar ou abrir mão de tamanho montante de recursos, a pergunta a ser feita é: por que não melhorar o aproveitamento de fontes de energia já existentes e canalizar tais investimentos a outras áreas estratégicas que possam articular o crescimento econômico a um adequado índice de desenvolvimento humano?

Diante dos inegáveis impactos ecológicos, econômicos, e sociais que serão causados pela usina de Belo Monte, insistir em sua construção só pode representar algum tipo de “apagão” na memória do presidente e de seus assessores. Ao invés de pensar em conspiração oposicionista para promover um apagão, o governo deveria estar imbuído do desejo de construir políticas justas e honestas para a população.

Porto Alegre (RS), 25 de abril de 2010.

Roberto Antonio Liebgott
Vice-Presidente do Cimi

sexta-feira, 23 de abril de 2010

TRF-1 vai julgar recursos do MPF no dia 29 de abril

A Procuradoria Regional da República da 1ª Região (PRR-1) entrou com recurso contra a segunda suspensão de liminar que impedia o leilão da Usina de Belo Monte, no Pará. Expedida na última terça-feira, 20 de abril, pelo presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), Jirair Megueriam, a suspensão permitiu que o leilão fosse realizado no mesmo dia.

Assim como no primeiro recurso, protocolado no dia 19, neste o procurador regional Renato Brill de Góes pede que a suspensão de liminar seja avaliada pela Corte Especial do TRF-1 em caráter de urgência.

O TRF-1 já comunicou ao MPF que irá incluir o primeiro recurso na pauta da sessão da Corte Especial, que será realizada na próxima quinta-feira, 29. A expectativa é de que o segundo recurso também seja analisado, já que o processo trata do mesmo assunto.

Segundo Brill, se a decisão da Corte Especial for favorável, o leilão corre o risco de ser anulado.

Veja a íntegra do segundo recurso.

Informe do Ministério Público Federal (MPF), publicado pelo EcoDebate, 23/04/2010

Um parecer oficial contra Belo Monte

Deu em O Globo

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/04/23/um-parecer-oficial-contra-belo-monte-286022.asp

Um parecer oficial contra Belo Monte


Nota técnica de Furnas e Eletrosul não recomenda estatais no projeto

De Henrique Gomes Batista:

Uma nota técnica elaborada por duas estatais de energia do grupo Eletrobras, Furnas e Eletrosul, indicou que a construção da usina de Belo Monte era um mau negócio.

Segundo o documento ao qual o GLOBO teve acesso e que foi elaborado dia 18 de abril, dois dias entes do leilão, uma análise do edital da obra, das condições de mercado e dos acordos entre as empresas que formavam o consórcio Belo Monte Energia alertava que não era seguro para as estatais participar do leilão.

O consórcio — que abrigava, além das duas subsidiárias da Eletrobras, a construtora Andrade Gutierrez, a Vale, a Neoenergia e a Companhia Brasileira de Alumínio, divisão do grupo Votorantim — acabou perdendo o leilão. Pequena lucratividade, riscos financeiros, da obra, do projeto e de operação foram apresentados como problemas que tornariam a obra pouco viável.

O documento, de uso interno das estatais, estima que a obra custará R$ 28,5 bilhões — bem acima da previsão oficial de R$ 19 bilhões. Mas isso nem é surpresa, já que todos os analistas consideravam os números do governo subestimados.

O que assustou os analistas das estatais foram os outros números do empreendimento. A taxa interna de retorno (a chamada TIR, que demonstra a margem de lucratividade de uma atividade financeira), foi estimada em apenas 3%, considerando riscos extras de questões ambientais e fundiárias de R$ 2,7 bilhões.

Mesmo que estes custos extras não se confirmem, a lucratividade do negócio é baixa: 4,4%, diz o documento. O valor é quase a metade da taxa prevista pelo governo, de 8%, que forçou essa margem às pressas, pouco antes do leilão, para tentar o sucesso da concorrência, visto que a previsão anterior era bem mais generosa e em linha com grandes empreendimentos de infraestrutura, com uma taxa de 12%.

De maneira geral, os técnicos das duas estatais indicam diversos problemas no projeto baseado na proposta do governo. Faltaram, segundo a nota, estudos geológico-geotécnicas.

Além disso, teria havido subavaliação dos custos ambientais, falta de recursos para seguros e uma precificações mais correta dos serviços de remoção da população local. Isso indica que tanto o governo como os consórcios — estimulados pelas estatais — entraram no negócio de forma açodada.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Jornal Estado de São Paulo publica diversas mobilizações contra Belo Monte

Na notícia constam entrevistas com a participação dos especialistas Sônia Magalhães, Raul Valle e Pedro Bara. Para visualizar melhor basta clicar na imagem.

Manifesto Internacional em Defesa da Amazônia e Contra a Construção de Belo Monte


La Via Campesina Internacional

Nós, organizações que fazem parte da Via Campesina Internacional, apoiadores e amigos da Via, reunidos na “Conferencia Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas e os Direitos da Mãe Terra”, na Bolívia, estamos acompanhando a luta contra a hidrelétrica de Belo Monte no Brasil. Diante disso, vimos nos manifestar publicamente, em caráter internacional, em defesa da Amazônia e contra a construção da Barragem de Belo Monte|Brasil, que está sendo leiloada pelo Governo Brasileiro nesta semana.

Entendemos que está em curso uma ofensiva mundial das grandes empresas para apropriar-se dos bens naturais estratégicos em todos os países, como a água, a energia, a terra, a biodiversidade e os minérios, através de grandes projetos de desenvolvimento. Estes grandes projetos de interesses das transnacionais são contra os interesses dos povos, porque refletem na perda de soberania energética e alimentar. Por isso, temos assumido um compromisso internacional de denunciar e lutar contra esta lógica que tem como único objetivo a busca do lucro.

A região amazônica
é uma das regiões mais ricas do mundo, com enorme diversidade, as maiores reservas mundiais de água, minérios, biodiversidade, terras, petróleo, gás, entre outros. Por ter essa diversidade de riquezas naturais, e por ser um dos últimos territórios com grandes quantidades de bases naturais, está no centro de todo e qualquer projeto das transnacionais.

No caso da energia das hidrelétricas, tem servido para ser usada para alimentar a indústria eletrointensiva exportadora (de alumínio, celulose, ferro, etc), considerada uma das mais poluidoras do mundo.

Em relação ao projeto de construção da hidrelétrica de Belo Monte, na Região Amazônica, nossa posição é contrária e esperamos que se cancele definitivamente este plano. Caso esta obra seja construída, entregará parte da Amazônia ao controle das transnacionais e ao mesmo tempo causará um dos maiores desastres sociais e ambientais.


Assim solicitamos às autoridades responsáveis que revejam este procedimento de tentar construir esta obra, e se estabeleça um amplo debate sobre esta questão e a questão energética envolvendo os amplos setores da sociedade.


Conclamamos finalmente a todo o povo e aos movimentos e entidades a continuarem suas lutas, a se solidarizarem em defesa da Amazônia e contra a hidrelétrica de Belo Monte.


Globalizemos a luta, globalizemos a esperança.

La Via Campesina, presentes em Cochabamba - Bolívia

28 países, 120 pessoas de 57 organizações.

Nós, indígenas do Xingu, não queremos Belo Monte

Por Cacique Bet Kamati Kayapó, Cacique Raoni Kayapó Yakareti Juruna

Nós, indígenas do Xingu, estamos aqui brigando pelo nosso povo, pelas nossas terras, mas lutamos também pelo futuro do mundo

O presidente Lula disse na semana passada que ele se preocupa com os índios e com a Amazônia, e que não quer ONGs internacionais falando contra Belo Monte. Nós não somos ONGs internacionais.

Nós, 62 lideranças indígenas das aldeias Bacajá, Mrotidjam, Kararaô, Terra-Wanga, Boa Vista Km 17, Tukamã, Kapoto, Moikarako, Aykre, Kiketrum, Potikro, Tukaia, Mentutire, Omekrankum, Cakamkubem e Pokaimone, já sofremos muitas invasões e ameaças. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, nós índios já estávamos aqui e muitos morreram e perderam enormes territórios, perdemos muitos dos direitos que tínhamos, muitos perderam parte de suas culturas e outros povos sumiram completamente. Nosso açougue é o mato, nosso mercado é o rio. Não queremos mais que mexam nos rios do Xingu e nem ameacem mais nossas aldeias e nossas crianças, que vão crescer com nossa cultura.

Não aceitamos a hidrelétrica de Belo Monte porque entendemos que a usina só vai trazer mais destruição para nossa região. Não estamos pensando só no local onde querem construir a barragem, mas em toda a destruição que a barragem pode trazer no futuro: mais empresas, mais fazendas, mais invasões de terra, mais conflitos e mais barragem depois. Do jeito que o homem branco está fazendo, tudo será destruído muito rápido. Nós perguntamos: o que mais o governo quer? Pra que mais energia com tanta destruição?

Já fizemos muitas reuniões e grandes encontros contra Belo Monte, como em 1989 e 2008 em Altamira-PA, e em 2009 na Aldeia Piaraçu, nas quais muitas das lideranças daqui estiveram presentes. Já falamos pessoalmente para o presidente Lula que não queremos essa barragem, e ele nos prometeu que essa usina não seria enfiada goela abaixo. Já falamos também com a Eletronorte e Eletrobrás, com a Funai e com o Ibama. Já alertamos o governo que se essa barragem acontecer, vai ter guerra. O Governo não entendeu nosso recado e desafiou os povos indígenas de novo, falando que vai construir a barragem de qualquer jeito. Quando o presidente Lula fala isso, mostra que pouco está se importando com o que os povos indígenas falam, e que não conhece os nossos direitos. Um exemplo dessa falta de respeito é marcar o leilão de Belo Monte na semana dos povos indígenas.

Por isso nós, povos indígenas da região do Xingu, convidamos de novo o James Cameron e sua equipe, representantes do Movimento Xingu Vivo para Sempre (como o movimento de mulheres, ISA e CIMI, Amazon Watch e outras organizações). Queremos que nos ajudem a levar o nosso recado para o mundo inteiro e para os brasileiros, que ainda não conhecem e que não sabem o que está acontecendo no Xingu. Fizemos esse convite porque vemos que tem gente de muitos lugares do Brasil e estrangeiros que querem ajudar a proteger os povos indígenas e os territórios de nossos povos. Essas pessoas são muito bem-vindas entre nós.

Nós estamos aqui brigando pelo nosso povo, pelas nossas terras, pelas nossas florestas, pelos nossos rios, pelos nossos filhos e em honra aos nossos antepassados. Lutamos também pelo futuro do mundo, pois sabemos que essas florestas trazem benefícios não só para os índios, mas para o povo do Brasil e do mundo inteiro. Sabemos também que sem essas florestas, muitos povos irão sofrer muito mais, pois já estão sofrendo com o que já foi destruído até agora. Pois tudo está ligado, como o sangue que une uma família.

O mundo tem que saber o que está acontecendo aqui, perceber que destruindo as florestas e povos indígenas, estarão destruindo o mundo inteiro. Por isso não queremos Belo Monte. Belo Monte representa a destruição de nosso povo.

Para encerrar, dizemos que estamos prontos, fortes, duros para lutar, e lembramos de um pedaço de uma carta que um parente indígena americano falou para o presidente deles muito tempo atrás: " Só quando o homem branco destruir a floresta, matar todos os peixes, matar todos os animais e acabar com todos os rios, é que vão perceber que ninguém come dinheiro " .

Cacique Bet Kamati Kayapó, Cacique Raoni Kayapó Yakareti Juruna, representando 62 lideranças indígenas da Bacia do Xingu.

Xingu e a vingança Mapuche

Xingu e a vingança Mapuche, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
http://www.ecodebate.com.br/2010/04/22/xingu-e-a-vinganca-mapuche-artigo-de-roberto-malvezzi-gogo/

Quando os Mapuches conseguiram pôr as mãos em Pedro Valdívia, o levaram para uma de suas aldeias. Primeiro cortaram suas orelhas e seu nariz, para que se recordasse de todos os narizes e orelhas que cortara dos Mapuches e despachara em cestos rio abaixo para exibir sua crueldade.

Em seguida, num ritual solene, acenderam uma fogueira e o assaram brandamente, retirando e comendo pequenas lascas de carne assada do conquistador Espanhol.

Finalmente, derreteram um pote de ouro e despejaram garganta abaixo de Valdívia, para saciá-lo da sede de ouro que possuía, motivo fundamental de suas chacinas sobre os Mapuches.
Esse é, em outras palavras, o relato que nos faz a escritora chilena Isabel Allende, em seu livro “Inés de Minha Alma”, onde relata a conquista do território chileno por Pedro Valdívia. Os Mapuches mataram Valdívia, com vingança cruel e requintada, mas perderam a guerra. Hoje há um punhado de Mapuches que resiste em território chileno.

Uma Bíblia foi o pretexto para Cortés massacrar os Astecas. O ouro foi motivo para Pizarro dizimar os Incas, para Valdívia arrasar os Mapuches. Em nome das terras, da fé e do ouro os portugueses dizimaram os índios brasileiros. Sobraram alguns, poucos, como na região do Xingu.

Quando eles pensavam que iriam ter paz, uma hidroelétrica, um presidente, uma candidata a presidente, as corporações nacionais e transnacionais, em nome do progresso, do desenvolvimento, da segurança energética – mas, poderia ser da Bíblia, do ouro, ou qualquer outro pretexto – vão dizimar o que lhes restou de espaço na sua turbulenta história.
São as leis da história e do progresso, não é mesmo? Afinal, como disse um jornalista da TV, “ou se devolve o Brasil aos índios, ou se pensa nos outros 195 milhões de brasileiros”.

O capital tem seus deuses e sua voracidade. E eles pedem sacrifícios contínuos dos povos, nesse caso os indígenas, em qualquer época da história. Quando se perde o sentido do humano, sempre há um argumento para justificar a crueldade, seja contra a natureza, seja contra a pessoa humana.

Roberto Malvezzi (Gogó), articulista do Ecodebate, é Assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT.

Belo Monte: "finale" digno do regime militar

CLAUDIO ANGELO
editor de Ciência

Há uma dissociação entre a imagem do presidente Lula nos jornais desta terça-feira, afagando uma criança indígena em Roraima, e a ação da Advocacia-Geral da União no mesmo dia para garantir justamente que os índios fossem atropelados e que a usina de Cararaô fosse construída. Aparentemente, o socioambientalismo do governo acaba onde começam o PAC e a eleição de Dilma Rousseff.

O atropelo foi só mais um da série que viabilizou Belo Monte, a começar da licença prévia tratorada sobre o parecer técnico do Ibama contrário à obra. Um projeto do regime militar ganha, assim, um "finale" digno da ditadura, com uma alteração de slogan: na era Lula-Dilma, "sovietes e eletricidade" complementam o "Brasil grande".

A serem concretizados os planos do governo e o seu novo modelo de licenciamento ambiental "top-down", por assim dizer, Belo Monte é só o começo. O governo considera que 70% do potencial hídrico da Amazônia está ainda por aproveitar, e a EPE planeja usinas para virtualmente qualquer rio da região que tenha uma cachoeira aproveitável. Em breve, para alegria de James Cameron, outras tribos da Amazônia poderão se juntar aos caiapós e aos araras da Volta Grande do Xingu na lista dos índios atingidos por barragens.

Quem já está com as penas do cocar arrepiadas são os mundurucus, do rio Tapajós. Nas suas terras e arredores a Eletronorte planeja não uma, mas cinco usinas hidrelétricas. Uma delas, São Luiz do Tapajós, será a terceira maior do país, com 6.133 megawatts de potência instalada e um reservatório de 722 quilômetors quadrados, quase o dobro do de Cararaô/Belo Monte.

A obra já está listada no PAC-2. O inventário dos potenciais elétricos da região dos rios Tapajós e Jamanxim prevê que São Luiz inunde parte de uma terra mundurucu e parte do parque nacional da Amazônia.

Em novembro, os índios mandaram uma carta ao presidente ameaçando guerra caso o plano das usinas vá adiante.

Já a diretora do parque, Maria Lúcia dos Santos, diz que não pode nem autorizar os estudos de impacto ambiental, pois a lei não permite franquear acesso ao parque a atividades que lhe causarão dano. "A não ser que rasguem o Snuc", afirma, referindo-se à lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

Rasgar o governo não rasgou, mas publicou na semana passada um decreto regulamentando estudos do tipo em unidades de conservação, justamente para facilitar o projeto. O presidente do Instituto Chico Mendes, Rômulo Mello, disse à Folha que "as unidades de conservação não são intocáveis".

O atual ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, afirma que as usinas da Amazônia pós-Belo Monte serão baseadas em um novo conceito, o de "usinas-plataforma". A fórmula prevê que os canteiros de obras e as estradas criadas para fazer as hidrelétricas sejam abandonados para que a floresta se regenere. A operação das usinas seria remota.

Por enquanto, o conceito só existe nas propagandas da Eletrobras, que se gabam de que na região do Tapajós a relação entre área preservada e área "sob intervenção" será de 101 km2 para 1 km2. Só se esquecem de dizer que, somados, os reservatórios do Tapajós serão maiores que a cidade de São Paulo.