Após
assembleia geral, indígenas divulgam carta pública na qual convocam
instituições governamentais para reunião, exigindo demarcação de terra e
suspensão de projetos de mineração
Leia abaixo ou clique na íntegra da carta:
Publicado em 27 de abril de 2014
Após uma semana de intensas
reuniões, indígenas da etnia Munduruku decidiram, em assembleia com
caciques e representantes de mais de 60 aldeias, convocar o Ministro da
Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, o Ministro de Minas e
Energia, o Presidente da Eletrobrás, a FUNAI e o Ministério Público
Federal para uma reunião na próxima quinta-feira (1) na aldeia Sai
Cinza, Jacareacanga, Pará. Entre as pautas estão a demarcação de uma
terra indígena no médio Tapajós e o fim de pesquisas e concessões de
lavra no subsolo de terras indígenas.
A decisão aconteceu após o
anúncio de uma audiência marcada para o dia 6 de maio, em Itaituba, onde
deve ser apresentado a Avaliação Ambiental Integrada (AAI) do Complexo
hidrelétrico do Tapajós. “O governo fala que a gente não quer diálogo.
Então a gente decidiu que somos nós que temos que marcar audiência,
consulta prévia, não o Governo. O Governo tem que ouvir e dialogar
dentro do nosso território. Não somos nós que temos que ir atrás do
Governo. O Governo que tem que vim e dialogar com o povo Munduruku
dentro das aldeias”, diz Kabaiwun Kaba, membro do movimento Munduruku
Ipereg Ayu.
Em carta enviada por e-mail à
Secretaria Geral da Presidência, os indígenas afirmam que antes de
qualquer audiência e apresentação de estudos, os Munduruku querem a
demarcação da Terra Indígena Sawré Maybu, localizada no médio Tapajós,
próximo de Itaituba. Outra demanda é a suspensão das autorizações de
pesquisa e lavra mineral do subsolo em território indígena, emitidas
pelo Departamento Nacional de Produção Mineral para grandes mineradoras,
como a Vale. A empresa já possui licença para pesquisa mineral em
grande parte do território indígena. Segundo Kabaiwun Kaba, os Munduruku
decidiram que tanto as hidrelétricas quanto os projetos minerais
previstos para o Tapajós devem ser combatidos pelos indígenas. “Para nós
tudo é sagrado. Tanto o rio, a terra, o vento, o fogo, a floresta. Tudo
é sagrado. Então quando o governo diz que vai fazer alguma coisa na
nossa terra, dói no nosso coração porque a gente faz parte de tudo
isso”, afirma.
O complexo Tapajós é um conjunto de 7 grandes usinas hidrelétrica –
São Luiz do Tapajós, Cachoeira do Caí, Jatobá, Jamanxin, Cachoeira dos
Patos, Jardim do Ouro e Chacorão. Segundo informações publicadas no
folheto de propaganda do complexo, o lago formado terá cerca de 800 km²,
quase o dobro da inundação prevista para a usina de Belo Monte.
Atraso na demarcação de terra e pressa no licenciamento
Com eleições marcadas para Outubro deste ano, o Governo Federal vem tentando de todas as formas avançar com o processo de licenciamento do complexo de hidrelétricas do Tapajós. Um exemplo disso é que em 2012 a presidenta Dilma Russef reduziu os limites de sete unidades de conservação (UCs) para viabilizar a construção de oito grandes barragens na Amazônia, entre elas, a UHE São Luiz do Tapajós.
Se construída, São Luiz alagará os municípios de Trairão e Itaituba,
além de comunidades indígenas ainda não demarcadas. No final de 2013, a
presidenta da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Maria Augusta
Assirati, se comprometeu com os indígenas em publicar até março deste
ano o Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da TI
Sawré Maybu, porém, o relatório, já aprovado pela Diretoria de Proteção
Territorial (DPT) até agora não foi divulgado no diário oficial da
União.Com eleições marcadas para Outubro deste ano, o Governo Federal vem tentando de todas as formas avançar com o processo de licenciamento do complexo de hidrelétricas do Tapajós. Um exemplo disso é que em 2012 a presidenta Dilma Russef reduziu os limites de sete unidades de conservação (UCs) para viabilizar a construção de oito grandes barragens na Amazônia, entre elas, a UHE São Luiz do Tapajós.
Leia abaixo ou clique na íntegra da carta:
Ao governo brasileiro e à sociedade brasileira
Nossos caciques, pajés,
lideranças, guerreiros, mulheres e crianças do povo Munduruku, reunidos
na terceira assembléia do Movimento Munduruku Ipereng Ayu, declaramos
para o poder judiciário e a sociedade brasileira que temos total
disposição para dialogar um processo democrático de consulta prévia,
livre, informada e de boa fé, conforme a convenção 169 da OIT.
Para continuar esse diálogo,
que não é negociação dos nossos direitos, convidamos o ministro Gilberto
Carvalho, Ministro das Minas e Energia, Presidente da Eletrobrás,
Funai, Ministério Público Federal e observadores da sociedade civil,
para um encontro na aldeia Sai Cinza, município de Jacareacanga, PA, a
ser realizado no dia 1 de maio de 2014.
Queremos que o governo prove
sua boa fé, publicando o Relatório Circunstanciado de Identificação e
Delimitação da Terra Indígena Sawre Muybu do Médio Tapajós, e o
cancelamento de todas as licenças de pesquisa e lavra no subsolo da
Terra Indígena Munduruku emitidas pelo Departamento Nacional de Produção
Mineral para grandes empresas mineradoras.
Assembléia Munduruku, aldeia Missão Cururu, 25 de abril de 2014
Respeitosamente,
Josias Manhuary Munduruku – Líder dos guerreiros
Maria Leusa Cosme Kaba Munduruku – Representante das mulheres
Vicente Saul Munduruku – Cacique aldeia Sai Cinza
Arlindo Kaba Munduruku – Cacique aldeia Missão
Josias Manhuary Munduruku – Líder dos guerreiros
Maria Leusa Cosme Kaba Munduruku – Representante das mulheres
Vicente Saul Munduruku – Cacique aldeia Sai Cinza
Arlindo Kaba Munduruku – Cacique aldeia Missão
Texto de Larissa Saud, foto Rosamaria Loures
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