Nesta quarta,
17, após a apreciação da paute de reivindicações das populações não
indígenas atingidas por Belo Monte, encerrou-se a audiência de
conciliação entre a empresa Norte Energia e manifestantes, ordenada pela
Justiça Federal, e que iniciou-se no dia 16. Com isso, indígenas, pescadores e ribeirinhos, que paralisaram a ensecadeira de Pimental desde o último dia 8, deixaram o local.
O atendimento
concreto de grande parte das medidas exigidas pelos manifestantes, no
entanto, foi majoritariamente postergado e deverá ser definido em
reuniões futuras. Apesar do descontentamento com a falta de soluções
concretas e imediatas, os manifestantes comemoraram o fato de que, desta
vez, todos os acordos com a Norte Energia passam a valer juridicamente,
sendo que eventuais descumprimentos serão punidos com multa.
Registrados em
ata protocolada e enviada à FUNAI, ao Supremo Tribunal Federal e aos
demais órgãos do Governo responsáveis pela sua execução, os compromissos
assumidos pela Norte Energia são mandatórios perante a Justiça Federal,
explicou a defensora pública Andréa Barreto. “Isso é uma vitória. Agora
não pode mais haver descumprimentos de acordos, como vinha ocorrendo.
Se descumprir, a empresa será cobrada judicialmente”, afirmou a
defensora.
Apesar de terem
desocupado a ensecadeira e assinado a ata da audiência, lideranças
indígenas voltaram a afirmar que negociações acerca de condicionantes e
outras obrigações não cumpridas pela Norte Energia não tem nenhuma
relação com o fato de que Belo Monte continua sendo uma obra ilegal, uma
vez que o direito à consulta indígena, prevista pela Constituição
Federal e pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), foi violado pelo governo. “Exigimos que o Judiciário vote todas
as ações contra a usina, e exigimos que o Supremo Tribunal Federal
paralise a obra até que sejam feitas as oitivas indígenas. É importante
que a Norte Energia seja obrigada judicialmente a cumprir medidas de
mitigação e compensação, porque as populações do Xingu estão sofrendo
muito. Mas o Judiciário também tem que cumprir sua obrigação de zelar
pelas leis e pelos nossos direitos, e o que é certo é certo: Belo Monte é
ilegal”, afirmou Juma Xipaya. As reivindicações indígenas acerca dos
aspectos jurídicos e do não cumprimento de condicionantes pela Funai
foram retiradas da pauta da audiência.
Veja abaixo o resumo dos principais encaminhamentos da reunião:
Encaminhamentos da pauta indígena
- Sobre a
criação do Comitê de acompanhamento das condicionantes e dos programas
de compensação da UHE Belo Monte: a questão será discutida novamente em
reunião no dia 30 de outubro de 2012.
- Sobre
problemas com a comunicação e radiotransmissão nas aldeias (os rádios
instalados pelo não funcionam adequadamente): ficou encaminhado que até o
dia 30, na reunião do comitê de acompanhamento das condicionantes,
serão apresentadas as providências que serão adotadas para melhorar a
comunicação.
- Sobre o Plano
de Fiscalização e Vigilância Emergencial para todas as terras indígenas
(TIs): de acordo com os indígenas, a construção das bases de proteção
das aldeias estão com seus prazos todos vencidos. Ficou definido que até o final do mês de novembro de 2012 todas asUnidades
de Proteção Territorial (UPTs) estarão vistoriadas em conjunto entre a
FUNAI e a Norte Energia, e até março de 2013 serão contratadas as
empresas para construção e compra de material. A empresa terá quatro
meses para terminar de construir todas as UPTs, que terão de ser
entregues até julho de 2013.
- Sobre a
construção de escolas, postos de saúde e demais obras de infraestrutura,
previstas no Plano Básico Ambiental (PBA): a Norte Energia reconhece
que fez uma interpretação equivocada do PBA, e que o Plano Operativo não
contemplou todas ações (saúde, educação e infraestrutura) para todas as
aldeias afetadas. Ficou definido que os projetos executivos das obras devem ser entregues até abril de 2013 e as obras serão iniciadas em maio.
- Sobre os projetos
de energia, de abastecimento de água e de esgotamento sanitário: ficou
encaminhado que serão feitos dentro do PBA para todas aldeias. Sobre o
projeto de energia, a Norte Energia se comprometeu a iniciar o
diagnóstico em fevereiro de 2013 em todas as aldeias. Sobre os projetos
de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, a Norte Energia se
comprometei a cumprir o mesmo cronograma da construção das escolas e
postos de saúde.
Encaminhamentos da pauta das demais comunidades atingidas
No dia 17, a
audiência de conciliação foi retomada sob comando das Procuradoras
Federais Analice Uchoa Cavalcanti (que presidente a audiência) e Erika
de Oliveira Almeida ,com a leitura da pauta dos ribeirinhos acerca do
remanejamento imediato das famílias de áreas do canteiro de obras do
sítio Pimental, em razão das explosões e situação de insegurança, e das
dificuldade no transporte.
Foi acordado
pela Defensoria Pública e pela Norte Energia que, sendo comprovados os
impactos sobre as famílias de ribeirinhos, estas serão remanejadas. No
dia 23 de outubro, uma diligência composta por um representante da Norte
Energia (com poder de decisão), técnicos, representantes da Defensoria
Pública de Altamira, moradores do local, um representante da FUNAI,
deverá analisar as condições e os impactos.
Sobre a demanda
de reconhecimento dos territórios das populações tradicionais
ribeirinhas e indenização justa, ficou encaminhado que a Defensoria
Pública e o Ministério Público oficiarão a Norte Energia para convocar
uma reunião para discutir a situação das populações tradicionais
atingidas pela obra.
Sobre a pesca
de espécies ameaçadas e protegidas pelo Ibama, cuja liberação vem sendo
reivindicada em função da mortandade de peixes causada pelas obras de
Belo Monte: uma analista do IBAMA, junto com a Procuradora Federal,
devem enviar um relatório dessa audiência conciliatória com a
solicitação dos ribeirinhos ao IBAMA, e enviar uma cópia do relatório
para a Defensoria Pública até 19 de outubro de 2012. A Defensoria
Pública vai acompanhar os encaminhamentos do referido relatório.
Sobre os
direitos e as indenizações a pilotos de voadeira, que já estão perdendo
passageiros e têm dificuldade de navegação pelo Xingu com o seu
barramento, foi marcada uma reunião para o dia 31 de outubro de 2012
para discutir a condição de atingidos e a compensação financeira.
Sobre a
diminuição dos peixes e os prejuízos financeiros dos pescadores, a Norte
Energia negou que haja impactos sobre o setor e sobre a ictiofauna –
neste momento, um pescador denunciou que trabalhou 17 dias para a
empresa Biota e que presenciou a morte de mais de 500 kilos de peixe em
apenas uma ensecadeira, o que não teria sido comunicado ao IBAMA. Ficou
encaminhado que será feita uma auditoria conjunta com os pescadores,
técnicos indicados pelos pescadores, técnico do IBAMA, e técnicos da
Norte Energia nos locais onde a pesca está sendo afetada pela obra, para
verificação dos impactos, no dia 07 de novembro de 2012. Durante a
vistoria, será estipulado o prazo da entrega do relatório.
Sobre a
compensação financeira para garantir da continuidade do trabalho dos
pescadores e pilotos de voadeira, já que o rio de onde tiram a
subsistência não mais oferece condições de trabalho, ficou
definido que tal questão será tratada a partir das reuniões do dia 31
de outubro de 2012 com os pilotos de voadeira, e da vistoria conjunta
dos pescadores com a Norte Energia, que subsidiará esta discussão.
Clique aqui para ler a ata na íntegra
Do Xingu Vivo
quem conta com o estado burguês, se equivale a ele
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