terça-feira, 2 de abril de 2013

Consórcio Belo Monte vai hoje à CPI explicar sobre existência de boate


Depoimento
Polícia encontrou 18 pessoas traficadas e em cárcere privado no estabelecimento
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Federal que apura os crimes de tráfico humano no país, vai colher hoje o depoimento do representante do Consórcio Construtor Belo Monte sobre o flagrante feito pela polícia, em fevereiro, na Boate Xingu, que mantinha 18 pessoas traficadas de outros estados em situação de cárcere privado para fins de exploração sexual, às proximidades do canteiro de obras do empreendimento, no município de Vitória do Xingu. Entre as vítimas estavam mulheres, uma adolescente de 16 anos e um travesti. O comparecimento do diretor de Qualidade, Meio Ambiente, Responsabilidade Social, Segurança e Saúde do CCBM, Antônio Carlos de Oliveira, à audiência, foi confirmada pela assessoria de imprensa do consórcio,
em Altamira, ontem.
O presidente da CPI, deputado Arnaldo Jordy (PPS/PA), que visitou o local junto com outros membros da comissão, no mês passado, disse ontem que a boate ficava na área do consórcio. "Para entrar na boate, tem que passar por uma guarita de Belo Monte. Além disso, a instalação obedece ao mesmo padrão dos pavilhões do consórcio, que são feitos em madeira com telha brasilit", observa. "O consórcio foi absolutamente conivente com essa situação. Era impossível eles não saberem o que estava acontecendo dentro da área do empreendimento", afirma. Porém, a tendência é que o diretor esquive o consórcio de qualquer responsabilidade no crime. Uma fonte antecipou que, na versão da empresa, a boate fica localizada a pelo menos 10 quilômetros de distância do canteiro de obras, num ramal. "Esse prostíbulo fica na beira da única estrada dentro do canteiro. Nós não podemos aceitar esse tipo de cumplicidade", rechaça Jordy.
A comissão conferiu que, dentro da pequena boate, as vítimas ficavam reclusas em pequenos quartos sem janelas, onde só havia um estrado e um colchão, com travas e cadeados do lado de fora das portas. As pessoas traficadas eram mantidas prisioneiras até quitarem as dívidas contraídas na viagem ao Xingu, além da hospedagem e alimentação. O crime só foi descoberto quando uma das vítimas, a adolescente, fugiu do local. A polícia estourou o cativeiro e resgatou as demais vítimas.
Estão presos em Belém, o dono da boate, Adão Rodrigues, a mulher dele e sócia, Solide Fátima Triques, o gerente da boate, Carlos Fabrício Pinheiro e o garçom do estabelecimento, Adriano Cansan. O Ministério Público Federal denunciou à Justiça, recentemente, os quatro acusados, além de Claci de Fátima Morais da Silva e Moacir Chaves, sendo a primeira acusada de aliciar as vítimas com a ajuda do segundo. De acordo com a denúncia, Claci é dona de uma boate em Santa Catarina, onde prometia às vítimas que ganhariam R$ 1 mil por dia se fossem para o Xingu.
"Queremos ouvir as explicações (do CCBM) e vamos exigir o cumprimento dos condicionantes. Essa era uma tragédia anunciada. A construção da usina atraiu 32 mil imigrantes e todos os índices de violência aumentaram na região do Xingu", disse o presidente da CPI, referindo-se ao descumprimento das ações de mitigação e compensação dos impactos previstos no licenciamento ambiental.
O crime da Boate Xingu é um dos 20 casos de tráfico humano que estão sendo analisados pela CPI. A comissão está na fase de diligências e de oitivas de testemunhas. Os trabalhos deverão ser concluídos dentro de três ou quatro meses, segundo Jordy.

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