quinta-feira, 21 de julho de 2011

Norte Energia compra área de desmatamento ilegal e incentiva especulação em Altamira



A Norte Energia S.A (Nesa), empresa dona da concessão da hidrelétrica de Belo Monte, adquiriu uma área que foi desmatada de forma ilegal recentemente na cidade de Altamira, para instalar um centro de treinamento de mão de obra. Além disso, a empresa pagou pelo terreno de 27 mil metros quadrados cerca de 300% acima do valor que está sendo praticado pelo mercado local. Para piorar, o centro de treinamento vai ficar longe do centro de Altamira e congestionar ainda mais o trânsito na saída da cidade.
A reportagem de Ecoamazônia obteve, com exclusividade, documentos que comprovam a transação. A área está localizada na estrada que dá acesso ao 51º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), distante mais de cinco quilômetros do centro de Altamira, próximo a um conjunto residencial. O terreno foi desmatado no ano passado pelos antigos donos sem autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) ou dos órgãos ambientais do Estado e do Município, e de acordo com a legislação, não poderia ser usado para edificações.
A cidade de Altamira possui atualmente dezenas de grandes áreas urbanas que não estão sendo usadas e que foram desmatadas há décadas, portanto, não haveria necessidade da Norte Energia adquirir um terreno de desmatamento recente. Isso poderá incentivar o desmatamento de outras áreas, como o que vem acontecendo bem próximo do terreno da Nesa, onde um grupo de moradores invadiu uma área e está colocando mata nativa no chão, incentivados pela valorização dos terrenos próximos ao local onde a Nesa constrói o seu centro de treinamento.
Uma justificativa plausível para adquirir um terreno tão longe e desmatado sem autorização seria um preço baixo. Mas é ai que entra um ingrediente ainda mais inexplicável desta história. A Nesa pagou pelo terreno R$ 2,7 milhões, ou R$ 100,00 o metro quadrado. A reportagem apurou que áreas bem mais próximas do centro da cidade estão sendo oferecidas por até R$ 20,00 o metro quadrado. A empresa pagou um valor mais de 300% acima do mercado, e por um terreno bem mais distante.
A aquisição da Nesa, como era de se esperar, disparou ainda mais o valor dos imóveis na cidade, que já vinham sofrendo uma explosão absurda nos preços. Após a informação sobre a compra milionária da Norte Energia se espalhar pela cidade, o valor pego pelo metro quadrado está servindo de referência para os donos de imóveis. Agora, imóveis que estavam à venda por valores que oscilavam entre R$ 8,00 a R$ 20,00 o metro quadrado já estão sendo oferecidos pelos mesmos R$ 100,00 pagos pela Nesa.
As perguntas que ficam sobre esta nebulosa negociação feita pela empresa dona de Belo Monte são muitas. Porque construir um centro de treinamento tão longe da população que seria beneficiada? Porque adquirir uma área de desmatamento ilegal? Porque pagar tão caro por um terreno, se existiam outros mais viáveis e bem mais baratos? Quem autorizou a compra? Houve pressão para a Nesa fechar o negócio? De quem? Em um negócio tão fora de propósito, é evidente que alguém está ganhando muito por fora. Quem?
MP - O mais impressionante nesta história é que o Ministério Público, tanto o federal quanto o estadual, estão omissos. O MPF está tão preocupado em impedir a construção de Belo Monte que não percebe que a usina será construída e que o mais importante seria o órgão atuar para impedir desvarios como este. O MPE, por sua vez, está envolvido em conflitos internos e parece ter se esquecido que sua função é proteger a sociedade.
Fonte: Redacão Ecoamazônia

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