Renata Tôrres* - Agência Câmara Notícias
A Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) do Tráfico de Pessoas pode recomendar ao governo, em relatório, a
paralisação das obras de construção da Usina de Belo Monte, no município
de Altamira, no Pará.
Integrantes da CPI promoveram, nesta
segunda-feira (25), audiência pública na Câmara Municipal de Altamira
com representantes da sociedade civil, das polícias, do conselho
tutelar, da prefeitura e do Ministério Público.
Eles afirmaram que a construção da usina
provocou a migração de 30 a 40 mil pessoas para a região, sem que o
município tivesse estrutura para receber tanta gente. Segundo os
participantes da audiência, o crescimento da população dessa forma tão
rápida provocou o aumento de todos os indicadores de violência, do
tráfico de drogas e da mendicância.
Entidades como o Movimento Xingu Vivo e
representantes da Universidade Federal do Pará se manifestaram durante a
audiência pedindo o cumprimento das condicionantes de Belo Monte, para
que seja garantidos compensações à população local. “Não podemos falar
de uma intervenção em casos de exploração sexual se não fizermos
intervenção ao tráfico de drogas e outros tipos de violência advindos
desse bolsão de pobreza e inchaço populacional instalados a partir de
Belo Monte”, disse o professor Assis Oliveira, coordenador da Comissão
Municipal de Enfrentamento à Violência Sexual em Altamira.
O presidente da CPI do Tráfico de
Pessoas, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), afirmou que esses problemas já
eram previsíveis. Para evitá-los, era preciso que o governo tivesse
montado uma infraestrutura de serviços de saúde e segurança, por
exemplo.
Arnaldo Jordy assinala que nada disso
aconteceu. Por isso, a CPI deve recomendar a paralisação das obras: “Já
há um consenso na comissão e algumas medidas já foram pactuadas lá,
nessa audiência pública. Uma delas é fazer um relatório detalhado à
ministra Maria do Rosário [da secretaria de Direitos Humanos] e à
ministra Miriam Belchior [do Planejemento] pedindo, inclusive,
providências para que as condicionantes que não foram cumpridas até
agora possam ser realizadas. Enquanto isso, que se solicite a
paralisação da obra.”
Jordy acrescenta que a CPI não está
tentando interditar o desenvolvimento, nem a geração de energia. “O
problema é que o preço que está sendo pago é muito alto. A dimensão de
violação dos direitos fundamentais da pessoa humana é absolutamente
surreal.”
Cárcere privado
Os deputados também estiveram na boate Xingu, que funciona perto das obras de Belo Monte. Lá, 34 pessoas, entre mulheres, adolescentes e travestis, foram libertadas depois de operações da Polícia Civil e do Conselho Tutelar. Elas eram mantidas em cárcere privado e obrigadas a se prostituir.
Os deputados também estiveram na boate Xingu, que funciona perto das obras de Belo Monte. Lá, 34 pessoas, entre mulheres, adolescentes e travestis, foram libertadas depois de operações da Polícia Civil e do Conselho Tutelar. Elas eram mantidas em cárcere privado e obrigadas a se prostituir.
O presidente da CPI do Trabalho Escravo,
deputado Cláudio Puty (PT-PA), também acompanhou a visita ao local. O
parlamentar descreve o que viu na boate: “Condições de absoluta
degradação. Eu já estive em áreas onde foram encontrados trabalhadores
em condição análoga à escravidão, mas nunca tinha visto quartos com
fechadura só pelo lado de fora. As meninas traficadas, exploradas
sexualmente. Eram escravizadas por dívidas e não tinham o direito de ir e
vir. Um calor que se aproximava de 50 graus, quartos sem janelas.
Chocante, absolutamente chocante.”
Segundo declarações da delegada da
Polícia Civil Thalita Feitoza, responsável pelo caso, de 2010 a 2011,
duplicaram as ocorrências de exploração sexual na região e, de 2011 a
2012, esse número quadriplicou.
Claudio Puty afirmou que a CPI do
Trabalho Escravo vai acionar o consórcio Norte Energia, responsável pela
construção de Belo Monte, para que que tome as medidas necessárias para
impedir que problemas como esse voltem a acontecer.
O deputado Jordy vai apresentar
requerimento para convidar o Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM)
para prestar esclarecer sobre o fato. “É impossível que este
estabelecimento exista sem o conhecimento da Norte Energia, até porque
no caminho de chegada até aqui passamos por guarita da empresa e área de
atividade da obra”, assinalou.
*Edição – Regina Céli Assumpção
-
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITOS-HUMANOS/436199-CPI-DO-TRAFICO-DE-PESSOAS-DEVE-RECOMENDAR-PARALISACAO-DE-OBRAS-DA-USINA-DE-BELO-MONTE.html
Enviada por Zuleica Nycz.
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