sexta-feira, 22 de março de 2013

Relato da invasão da Aldeia Maracanã



ALDEIA MARACANÃ:
Por Bruno Nogueira Guimarães
https://www.facebook.com/bruno.n.guimaraes.1/posts/10151491194703851

Cheguei às 10h30, havia centenas de manifestantes. Havia, no mínimo 250 membros do batalhão de choque, além da polícia militar. Mais de uma dezena de carros da polícia, incluindo dos camburões e blindados. E três helicópteros da polícia passavam pelo lugar com voos baixos. O cerco policial, que impedia qualquer pessoa, manifestante ou membro da imprensa, de se aproximar do Museu do Índio onde é a Aldeia Maracanã, se estendia por mais de 200 metros, ocupado por policiais em sua fronteira, além daqueles que estavam lá dentro. Uma parte enorme armada e com máscaras de gás de prontidão, mesmo sem haver tentativas de nenhuma parte de se furar o bloqueio policial.

Defensores públicos chegaram cedo ao lugar, além de membros do legislativo, como o Deputado Marcelo Freixo, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara do Estado do RJ. A conversa foi inócua: a proposta do governador era a remoção dos índios rumo a um abrigo de moradores de rua, ou que se alojassem em um terreno em Jacarepaguá (barracão de uma construtora, deu no rádio, mas não posso confirmar) e ele se recusou a negociar com os defensores e parlamentares. Por volta das 11h, iniciou-se um incêndio dentro do terreno onde está a Aldeia, mas não sabemos o que ocorreu. Mais de 50 homens do batalhão de choque foram para o pequeno portão da entrada do terreno, armados, além de seus escudos e máscaras de gás, para remover as 30 pessoas que lá estavam.

Um homem que estava lá dentro na resistência pediu para sair e me relatou que a polícia estava sitiando-os, impedindo chegar alimentos ou qualquer outra coisa lá dentro; a alternativa era se render ou ser preso. E então, cinco minutos depois, o choque invadiu, para remover cerca de 20 pessoas que ainda estavam no lugar, algumas delas crianças e outras mulheres. Lançaram gás de pimenta descriminadamente e empregaram muita violência. Crianças, membros da defensoria pública, parlamentares, todos foram atingidos.

Do lado de fora, as centenas de manifestantes ocuparam a Radial Oeste. Em cinco minutos, o Batalhão de Choque nos atacou, atirando várias granadas de "efeito moral" (e físico, pois os estilhaços ferem), spray de pimenta em todos os presentes, e batendo violentamente em quem não corresse dali. Vi pessoas sangrando, pessoas caídas no chão, vi um repórter ter a perna ferida pelos estilhaços de uma granada que mandaram em nossa direção (ele estava do meu lado, a 30 metros do foco do conflito, pois estávamos fazendo fotos). Havia sangue também em sua barriga.

Todos os que estávamos por lá, mais de 500 pessoas, receberam gás lacrimogênio, pois fomos cercados e ora a polícia de um lado, ora a de outro, nos atacava, não havendo ponto de fuga. Os membros da imprensa protestavam, os manifestantes também, alvos de uma violência despropositada. A hora seguinte foi de batalha campal. E de sadismo, policiais que gritavam "voltem para a floresta, seus índios", ou que riam de nós por não termos as máscaras para nos proteger do gás. Cheguei em um deles, pedi para poder sair dali, disse que não era do Rio, era turista, questionei tanta violência, e ele me disse "pois estamos fazendo isso daqui é para vocês, turistas, mesmo. Só estamos cumprindo ordens". E não havia por onde escapar, a não ser uma passarela interditada que consegui subir, através do canteiros de obras do Maracanã.

A polícia passou a atacar apenas de um lado, arrastando todos os manifestantes centenas de metros na Radial Oeste. Dezenas de bombas disparadas, tiros de borracha, ataques a indivíduos que tentavam correr para ajudar seus amigos, feridos, caídos na rua ("não pode entrar aí, tá cercado!"). Até que foram encurralados na UERJ, cerca de 300 metros do foco original da guerra iniciada pela Tropa de Choque do Sérgio Cabral. Cercado pela polícia à esquerda, que impedia o acesso rumo à Aldeia Maracanã, e pela polícia à direita, que sitiava os manifestantes (os repórteres já tinham corrido dali, agredidos e assustados, vi um repórter chorando, inclusive), entrei no canteiro de obras do Maracanã - todos os trabalhadores assistiam estarrecidos a guerra. Lá, consegui sair e vir rumo a minha casa.
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4 comentários:

  1. Lugar de Índio é na Floresta, não no meio da cidade. Aquele lugar era um antro de ladrões e drogados. Se não quiseram sair por bem, mereceram serem arrancados de lá a força, o que já era para ter sido feito há mto tempo, mas o governo insistiu em negociar com esses falsos índios e com os outros comunistazinhos oportunistas que nem deveriam estar ali. Como cidadão carioca, dou todo apoio a ação da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

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    1. A pessoa é criada com leite com pera, acha que bandido bom é bandido morto, odeia quando tem que esconder seu I Phone porque tem pobre por perto e podem roubá-lo. Escolher se vai pra Miami ou Buenos Aires é o seu maior dilema.
      Ai, como a classe média sofer!
      http://www.youtube.com/watch?v=K9Ai7uNjp0I

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  2. Falou a voz da elite branca rançorosa e preconceituosa. Lugar de índio é onde ele quiser pois estas terras sempre foram e sempre serão deles, apesar da usurpação do território por parte dos invasores

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  3. O que aocnteceu nçao foi uma invasão à aldeia... já estava tudo acordado e alguns índios se recusaram a se retirar, e por isso que o choque teve que entrar.

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