sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Semana de manifestações contra Belo Monte
Manifestações em 36 cidades, de 19 países ao redor do mundo. Isso é o balanço do Dia Mundial em Defesa das Florestas, 20 de agosto, convocado pelos movimentos que lutam em defesa do rio Xingu, no Pará, contra a construção da barragem de Belo Monte e contra o novo Código Florestal.Chamou a atenção a ampla participação e o caráter espontâneo nas manifestações que percorreram 36 cidades, de 19 países, de todos os continentes. Com o apoio e divulgação das chamadas mídias sociais, o Dia Mundial em Defesa das Florestas, contou com diversas ações como passeatas, piquetes, envio de mensagens às autoridades envolvidas, organizações de manifestações junto a embaixadas brasileiras no exterior, assinaturas de abaixo-assinados, entre outras iniciativas.
Originalmente planejado para ser apenas um dia de ações, tornou-se numa semana de protestos, especialmente contra a megalomaníaca obra de construção da usina de Belo Monte. A semana teve início no dia 17, com a realização da Marcha das Margaridas, em Brasília, e com manifestação dos participantes da Primeira Cumbre Regional Amazônica dos Povos Indígenas, em Manaus. Já no dia 20, passeatas ocorreram em 12 cidades brasileiras.
As manifestações no exterior, convocadas para o dia 22 para facilitar sua realização em frente às embaixadas e consulados do Brasil, ocorreram em 24 cidades de 18 países. Nos dias seguintes, 23 a 25, a luta contra a construção de Belo Monte continuou sendo pautada junto ao governo brasileiro pela Via Campesina durante sua Jornada Nacional.
A semana de manifestações foi encerrada com a realização de twitaço internacional, espécie de ação online na rede social Twitter, contra Belo Monte, com participação de milhares de pessoas e organizações.
No Brasil, as maiores manifestações aconteceram em Altamira, Belém e São Paulo. Houve ainda manifestações em Manaus, Rio de Janeiro, Brasília, Fortaleza, Salvador, Santarém, Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis.
No exterior, manifestantes se reuniram em frente a embaixadas e consulados do Brasil em Londres e Edimburgo (Reino Unido), Berlin e Würzburg (Alemanha), Paris (França), Haia (Holanda), Washington, Nova York, Los Angeles, São Francisco e Miami (EUA), Canberra (Austrália), Taipeh (Taiwan), Jacarta (Indonésia), Viena (Áustria), Oslo (Noruega), Ancara (Turquia), Guadalajara (México), Moscou (Rússia), Lisboa e Porto (Portugal), Toronto (Canadá), Moscou (Rússia), Malmö (Suécia), Copenhague (Dinamarca), Istambul (Turquia).
Além dos órgãos tradicionais, alvos e protestos, como a Presidência da República, Ministério de Minas e Energia, Ibama, Funai, Norte Energia e Eletrobras, o movimento inovou ao alertar instituições financeiras associadas à construção da usina. A campanha foi além do já muito criticado BNDES e fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Federal) e Petros (Petrobras). Outros bancos que estão sendo procurados pelo governo para atuarem como co-financiadores da usina, foram alertados sobre os riscos sociais, ambientais e econômicos envolvidos nesta megalomaníaca obra. Centenas de mensagens - "Destruição do Xingu - com meu dinheiro não!" - foram enviadas a bancos como Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander. A ação serve como um alerta: associar-se a Belo Monte vai gerar muita “publicidade negativa” em detrimento da imagem pública.
A magnitude do movimento, com participação de manifestantes em 19 países, a realização de 36 manifestações, mostra a amplitude geográfica das ações, sua autonomia e espontaneidade, seu engajamento e solidariedade, sua criatividade, seu alcance midiático e sua tenacidade. Cada vez mais pessoas e instituições estão convencidas da tragédia que se constituirá na região, caso Belo Monte venha a ser construída.
Na luta contra o desmonte da legislação ambiental, um abaixo-assinado paralelo, organizado pela Avaaz, contra o novo Código Florestal, reuniu mais um milhão de assinaturas em defesa das florestas.
O início da construção do canteiro de obras de Belo Monte e a aprovação do projeto do novo Código na Câmara dos Deputados, só fizeram intensificar as ações em defesa das florestas, dos rios e do meio ambiente. Ao longo dos últimos meses, as ações e manifestações contra a destruição da Amazônia crescem e se fortalecem. Centenas de pessoas vão às ruas em números cada vez maiores, lutando por um Xingu vivo, uma Amazônia viva.
A repercussão tem sido igualmente impressionante, sobretudo nas redes sociais, mas também nos meios tradicionais de comunicação social. Cresce, em todo o mundo, o nível de esclarecimento e de consciência a respeito das consequências desastrosas dos grandes projetos planejados para a região amazônica pelo governo brasileiro. Projetos estes implementados com recursos públicos, sem ouvir as comunidades e povos afetados, com estudos de impactos ambientais e sociais duvidosos e questionados judicialmente.
Que essa consciência e engajamento mundial sirvam de alertas para os grupos econômicos envolvidos na construção de Belo Monte. As consequências desta obra já estão gerando “publicidade negativa” dentro e fora do Brasil e isso continuará acontecendo, em intensidade cada vez maior, caso as obras de Belo Monte não sejam canceladas.
Isso vale tanto para empresas privadas, quanto para o governo brasileiro. Cada vez mais pessoas no Brasil e no mundo percebem que é falsa a imagem de governo sensível às causas sociais, imagem esta construída propagandisticamente durante o governo Lula, na verdade uma imagem forjada, que não reflete a realidade.
Fica cada vez mais claro, para cada vez mais pessoas, que Belo Monte e as demais hidrelétricas planejadas para a Amazônia, o crescimento absurdo do desmatamento, a proposta de novo Código Florestal, os assassinatos dos defensores da floresta, o desrespeito aos direitos indígenas e à própria Constituição, são todos reflexos de um modelo econômico-político ultrapassado e de curto prazo. Ultrapassado, porque já sabemos que existem alternativas melhores e mais econômicas. De curto prazo porque é um modelo sem futuro.
A mobilização em defesa das florestas, dos rios, dos direitos humanos cresce e continua: as próximas manifestações já estão planejadas para o dia 7 de setembro. As vozes em defesa da Mãe-Terra e da Vida não vão se calar.
A semana Mundial em Defesa das Florestas em imagens e vídeos
A semana de protestos se iniciou, de fato, no dia 17 de agosto, durante a Marcha das Margaridas em Brasília. Entre as 70.000 participantes, marchava uma delegação de mulheres do Pará levantando bandeiras contra a barragem no Xingu e contra as barragens planejadas nos demais rio da Amazônia.
Também anterior ao próprio Dia Internacional, foi o ato público realizado no Largo do Mestre Chico, na entrada do Bairro dos Educancos, pelos participantes da Primeira Cumbre Regional Amazônica dos Povos Indígenas, no dia 18, em Manaus, Pará. A usina de Belo Monte entrou inclusive na declaração final deste grande encontro internacional, como símbolo da destruição gerado por um modelo econômico predatório e neo-colonial. Figura sob o ponto 4 da Declaração: "¡Basta de represas “Belomonstruos” en Brasil, Guyana, Perú (Inambati, Marañón, Pakitzapango), Bolivia y el Mundo!"
Ainda no mesmo encontro, o presidente da Funai, Márcio Meira, levou um puxão de orelha do cacique Raoni, do povo Kayapó, que luta desde os anos oitenta contra a usina no Xingu. Disse Raoni a ele: “Tem que sair! Você está matando os povos indígenas. Tem que colocar outra pessoa que se preocupe com a gente”.
Em Altamira, município onde a usina está planejada, os movimentos se mantêm firme na resistência e saíram mais uma vez às ruas para mostrar sua indignação com Belo Monte.
O Comitê Metropolitano Xingu Vivo para Sempre, junto com outros movimentos, articulou uma grande passeata pela cidade, com música, caras-pintadas, faixas e panfletos distribuídos aos passantes. Estima-se entre 1500 e 2000 o número de participantes.
Em São Paulo, a pesar da chuva, se reuniram estimadamente mil pessoas, no vão do Museu de Arte Moderna (MASP), que tem servido como palco para várias manifestações contra Belo Monte ao longo do ano. Não é apenas a continuidade dos protestos em São Paulo, que chama a atenção nas manifestações em São Paulo. Também se destacam pela organização autônoma, através das redes sociais, reunindo vários grupos que lutam em prol do meio-ambiente e dos direitos humanos, entre eles indígenas e estudantes.
Na manifestação em São Paulo, a entidade Avaaz apresentou o primeiro resultado de um abaixo-assinado contra a proposta do novo Código Florestal que atualmente está tramitando no Senado. Dentro de uma semana, Avaaz juntou mais que um milhão de assinaturas, pedindo uma lei sensata, que defendesse as florestas, em vez de condená-las à destruição pelas moto-serras. Também pediu proteção para quem defende as florestas. A campanha continua em vigor.
Até em Brasília, cidade muito parada nos fins de semana, se reuniram espontaneamente umas sessenta pessoas. Elas improvisaram um bonito ato sob o lema "Lutamos, armados até os dentes, como mudas e sementes". Sempre mantendo o círculo, símbolo da continuidade, alternavam cantos, danças, palavras de ordem e momentos de meditação, em volta de uma muda de mogno, símbolo da vida.
Outras manifestações se realizaram em Cuiabá, Manaus, Fortaleza, Salvador de Bahia, Santarém, Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis e no Rio de Janeiro. Essa última, aliás, também já faz parte de uma série de manifestações contra Belo Monte, sempre articuladas na calçada de Copacabana por vários grupos e indivíduos.
Segunda-feira, dia 22 de agosto, foi marcada pelas manifestações no exterior. Em vários países pessoas realizaram atos para chamar a atenção da população para o desastre iminente de Belo Monte, pedindo às autoridades brasileiras que parassem o projeto, optando por um modelo energético mais sensato. O novo Código Florestal também foi objeto das manifestações.
Chamou atenção a manifestação na Australia, possívelmente incentivada pelo recente documentário Dammed, no qual o presidente do Ibama, Kurt Trennenpohl, explica que a função do Ibama não é cuidar do meio-ambiente e que o Brasil vai tratar os indígenas como Austrália tratou os aborígenes. Este povo originário sofreu campanhas de extermínio. .
Outras manifestações que se destacaram, foram articuladas em Taipeh (Taiwan) e Jakarta (Indonésia), talvez a primeira vez que os temas de Belo Monte fosse motivo para protesto num país asiático. No caso da Indonésia, há grandes semelhanças com o Brasil, na questão do desmatamento desenfreado da floresta tropical.
O protesto em Ancara, Turquia não deve surpreender, visto que neste país tem sido travado uma longa batalha sobre a construção de muitas usinas, com a usina de Ilisu sendo a mais notória, já que ela vai inundar grandes áreas e inclusive uma cidade histórica. O paralelo com os sítios arqueológicos que Belo Monte vai inundar é óbvio. Outro paralelo é que financiadores internacionais saíram do projeto (em 2008) por preocupações com os grandes impactos socioambientais. O governo da Turquia, como o do Brasil, insiste em construir a usina, agora com financiamento interno.
Para ver fotos das manifestações clique aqui
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