Manaus, Elaíze Farias
Além de provocar sérios danos às terras indígenas do povo munduruku, a migração para o estado do Amazonas vai aumentar com a construção do Complexo Tapajós, composto por cinco hidrelétricas na calha do Tapajós (PA), afluente do rio Amazonas.
Esta é a avaliação de Telma Monteiro, coordenadora de Energia e Infraestrutura Amazônia da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé.
“Todas essas hidrelétricas construídas na Amazônia próximas ao Amazonas vão afetar o estado. Isto acontecerá em Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, e com Tapajós, no Pará. Há um risco muito grande”, comentou Telma, ao acritica.com.
Telma elabora atualmente um relatório sobre os impactos que serão provocados pelo Complexo Tapajós.
A calha do Tapajós fica localizada na região do município de Santarém (PA), na divisa com o Estado do Amazonas, e abrange outros municípios vizinhos.
Segundo Telma, os municípios amazonenses que poderão ser mais diretamente afetados são localizados na região do baixo rio Amazonas, como Parintins e Nhamundá. “Pode ocorrer ocupação desordenada, inchaço das cidades”, disse ela.
Telma cita com exemplo do “inchamento” das cidades a situação registrada na região de Porto Velho (RO), onde, segundo ela, aumentaram as áreas de favelas e pontos de prostituição.
Tapajós
Os impactos das hidrelétricas do Tapajós, contudo, não se limitarão à explosão demográfica. Os riscos maiores são os impactos sociais e ambientais, com danos às espécies da fauna e flora e invasão de terras indígenas, além de especulação imobiliária, segundo Telma.
Inventário a que Telma Monteiro teve acesso apontou que os impactos serão perdas de ambientes ecologicamente estratégicos para reprodução de espécies aquáticas, peixes, répteis e mamíferos; perda de regiões com potencial pesqueiro para espécies comerciais alimentares; perda de regiões com potencial pesqueiro para espécies comerciais ornamentais; comprometimento de rotas migratórias; alterações da qualidade da água.
Ela criticou a propaganda do governo federal baseada no “novo conceito” de construção de hidrelétricas inspirado em plataformas de exploração de petróleo em alto mar.
“O material impresso, com conteúdo que considera a construção iminente, fato consumado, desconsidera o processo de licenciamento ambiental e não menciona os impactos socioambientais, mas já foi distribuído à população dos municípios da região”, diz Telma.
Indígenas
De acordo com Telma, os impactos previstos com a construção de hidrelétricas no rio Tapajós atingiria duas terras indígenas, além de afetar diretamente outra, a Terra Indígena (TI) Kayabi, que acompanha o rio Teles Pires por 280 km.
“O município de Jacareacanga é considerado uma "cidade" indígena com 60% de seu território cercados pelas terras dos Saí Cinza, Mundurucânia, Kayabi e Munduruku. A Terra Indígena Munduruku é a maior e ocupa 12% da bacia do Tapajós”, relata.
Telma destacou que os Munduruku vivem no ambiente da floresta e nas áreas de savana da Amazônia, chamadas de “campos do Tapajós”, no próprio vale do rio Tapajós.
No final do mês passado, em um encontro ocorrido no município de Jacareacanga (PA), cerca de 70 indígenas representantes de 19 aldeias revelaram-se preocupados com o processo de construção de hidrelétricas na região. Ao final, uma carta foi elaborada, contendo vários itens contestando os empreendimentos.
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