Encerrou-se neste sábado, 16, o encontro Xingu +
23, realizado na comunidade de Santo Antônio, a 50 km de Altamira.
Participaram cerca de 300 pessoas, entre ribeirinhos, agricultores,
pescadores e indígenas dos povosJuruna, Xikrin, Kayapó e
Xipaya da região, Munduruku das bacias dos rios Teles Pires e Tapajós e
Tembé da região de Belém, além deativistas autônomos de vários estados, integrantes da comunidade acadêmica e representantesde organizações de vários países, como Turquia, Israel, Áustria, Bélgica. Canadá e EUA.
Foram quatro dias de desabafos, debates e ação. Para os atingidos por
Belo Monte, o encontro ofereceu alento por terem quem os ouvisse. Para
os participantes de outras regiões, foram momentos duros ao serem
confrontados com a realidade dos impactos da usina.
Na vila de Santo Antônio, praticamente deserta após as
desapropriações compulsórias de seus moradores, sobraram ruínas e
madeirames empilhados das antigas casas de seus moradores. Sobrou também
o pequeno cemitério, com suas tumbas tomadas pelo mato após o embargo
da Norte Energia.
Da vila de Santo Antonio podia se ver a enormidade do canteiro de
obras de Belo Monte com o movimento incessante das máquinas; ouviam-se
as sirenes que anunciavam os estrondos e as detonações que explodem
terra e pedras; e sentia-se o seu tremor.
A cerca de 300 metros da comunidade, duas ensecadeiras barraram o
Xingu, mudando sua cor para marrom estagnado. As matas que protegiam as
margens do rio foram arrancadas, sobrando apenas uma grande área nua de
terra revolvida.
Diante dos atos de violação brutal do rio, das matas e dos povos que
vivem em suas barrancas, denunciados nas assembleias do encontro e em
uma audiência pública realizada na Universidade Federal do Pará – à
qual, apesar de convidada, a Norte Energia não compareceu –, no dia 15
moradores da cidade realizaram uma marcha de protesto em Altamira e os
participantes do encontro libertaram um trecho do Xingu ao ocupar uma
das ensecadeiras e abrir um escape para o rio.
O encontro se encerrou no dia 16 após uma marcha na Transamazônica.
O Xingu +23 reuniu um número expressivo de representantes das
comunidades locais, indígenas e apoiadores. A libertação do rio foi,
para todos, uma ação de enorme significância, e provou que tudo é
possível. Belo Monte não é invencível, e a união de forças pode apagar
esta mancha do mapa da Amazônia. Pode, acima de tudo, evitar os demais
projetos desastrosos de hidrelétricas na região, uma tarefa urgente que
não pode esperar.
Nós, os participantes e apoiadores do Xingu +23, conclamamos o país e
todos os representantes dos países que estarão na Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – a Rio + 20 – a olhar
para a Amazônia e evitar o crime cometido no coração da região pelo
governo brasileiro com a hidrelétrica de Belo Monte. E afirma que, após
23 anos de resistência contra o barramento do Xingu, não haverá
esmorecimento nem trégua na luta pela vida do rio e pelos direitos de
seus povos.
Vila de Santo Antônio, 16 de junho de 2012
Encontro Xingu +23
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