Dion Marcio C. Monteiro[1]
“Tudo pode ser manipulado, e falseia o explorador.
Vê o seu lucro ameaçado, e é capaz do vil terror.
No laranjal o malandrino, infame pra Mídia filmar.
Sem Terra povo do Divino, igualdade e o libertar”.
(A poesia do Sem Terra – Azuir Filho)
Vê o seu lucro ameaçado, e é capaz do vil terror.
No laranjal o malandrino, infame pra Mídia filmar.
Sem Terra povo do Divino, igualdade e o libertar”.
(A poesia do Sem Terra – Azuir Filho)
As elites econômicas sempre desenvolveram precisas táticas e estratégias para manter seu status quo quando algum fato os ameaça. A aliança entre o executivo, o judiciário e os veículos de comunicação, de propriedade destas mesmas elites, sempre foi um dos recursos mais utilizados. Ontem foi escrito mais um capítulo desta infame história.
Logo no dia seguinte a um dos canteiros da usina de Belo Monte ter sido ocupado pelos povos do Xingu, alguns veículos de comunicação, historicamente defensores dos grandes grupos econômicos, e apoiadores de golpes militares, estão tentando vincular uma suposta invasão e depredação ocorrida no prédio da Norte Energia S.A. (NESA), em Altamira, com a pacífica manifestação realizada no dia anterior por indígenas, pescadores, ribeirinhos, agricultores, quilombolas, ativistas sociais, trabalhadores rurais e moradores das cidades impactadas por esta hidrelétrica.
É o caso da filial da Rede Globo de televisão no Pará, emissora que até então ainda não havia falado sobre a ocupação do canteiro. A TV Liberal foi a primeira a noticiar a invasão e depredação do prédio administrativo da NESA, mostrando a imagem do boletim de ocorrência feito pela empresa, e acentuando que a policia de Altamira já estava procurando identificar os responsáveis pela ação. O detalhe é que mesmo ainda estando o suposto caso em investigação, a ação foi apresentada como “realizada por movimentos sociais contrários a construção de Belo Monte”.
Procurando criar um consenso sobre este vínculo, a apresentadora do jornal observa, exatamente após a matéria que fala da invasão ao prédio, que está ocorrendo na região o evento denominado Xingu+23 (equivocadamente chamado por ela de Xingu+20), mostrando em seguida imagens de indígenas fazendo um ritual nas ensecadeiras ocupadas, e finalizando com a informação de que durante a ocupação “um banheiro havia sido queimado e um poste derrubado”.
É importante lembrar que os principais motivos da ocupação do dia anterior são às diversas violações de direitos que os povos do Xingu estão sofrendo. Os indígenas não tiveram direito as oitivas; os agricultores e as populações urbanas não tiveram o direito de se manifestar sobre o futuro que querem; cientistas, pesquisadores e o Ministério Público Federal foram simplesmente ignorados. Enquanto isso, a NESA assumiu o papel do Estado, e os seus funcionários mandam e desmandando na região, por mais incrível que isso possa parecer.
Se existem grupos que entendem de depredação estes são a NESA e o governo federal, associação eficiente que prevê devastar milhares de km² de floresta, somente de áreas desapropriadas serão 2.823 km²; secar 100 km do rio Xingu; assassinar milhares de pequenos animais; afetar negativamente a vida de aproximadamente 40 mil pessoas, incluindo quase 10 mil indígenas; além de emitir, caso a hidrelétrica seja construída, milhões de toneladas de gás metano na atmosfera, aumentando o já grave problema referente ao efeito estufa e aquecimento global.
Infelizmente, a tentativa de criminalizar os ativistas sociais não ocorre somente neste caso, nos últimos anos indígenas e sem-terra tem sido as principais vítimas deste tipo de criminalização no Brasil. Porém, esta mesma ação tem sido muito utilizada em outros países da Pan-amazônia, em especial no Peru, Bolívia e Equador, locais onde a luta em defesa dos recursos naturais tem sido muito ativa por parte de organizações e movimentos sociais.
A ordem agora é criminalizar o Movimento Xingu Vivo, criando situações que coloquem a opinião pública local e nacional contra as pacíficas manifestações que ocorreram em Altamira. O outro objetivo é facilitar ações judiciais contra os que participam deste movimento. Deve-se lembrar que nos últimos 15 dias dois interditos proibitórios, graciosamente solicitados pela NESA e prontamente acatados pela justiça de Altamira, foram emitidos contra o Movimento Xingu Vivo e alguns de seus componentes.
Criminalizar os protestos, as lideranças, os movimentos, as organizações sociais e todos que se opõem aos planos que o capital tem para a natureza, têm sido ação recorrente das elites econômicas, empreiteiras, mineradoras, empresários e políticos corruptos, e seus representantes no executivo e judiciário. Mesmo assim, os ativistas que lutam pela implantação de um sistema verdadeiramente justo, equilibrado e que respeite a mãe-terra, continuarão firmes em defesa da floresta, do rio e da vida.
[1] Pesquisador do Instituto Amazônia Solidária e Sustentável (IAMAS), mestre em Planejamento do Desenvolvimento, componente do Fórum Social Pan-amazônico e do Comitê Xingu Vivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário