MANIFESTO DOS XIKRIN DO BACAJÁ
Texto produzido pelos homens
reunidos na aldeia do Bacajá, Terra Indígena Trincheira-Bacajá,
com assessoria na tradução da antropóloga Clarice Cohn.
"Parem com isso, deixem
o rio correr. Deixem que nossos barcos andem pelo rio. Parem com isso, deixem o
rio correr para as crianças banharem e beberem de sua água. Se fizerem a
barragem o rio vai ficar ruim, a água não vai mais ser boa. O rio vai ficar
seco, por onde vamos navegar?
Deixem o rio correr
para a gente ir para o mato caçar para nossos filhos e netos comerem, para que
no rio que corre bem a gente pesque, saia cedo para pescar para nossas crianças
comerem.
Nossos Estudos mal
foram completados e vocês estão falando da barragem, não gostamos disso. O PBA
nem saiu e vocês já estão começando a fazer a barragem, não gostamos
disso. Nós queremos que a barragem de
Belo Monte pare de vez!"
ÍNDIOS DA REGIÃO DE ALTAMIRA OCUPAM BARRAGEM DE
BELO MONTE
Quem quiser apoiar esta iniciativa ou conhecê-la melhor,
pode entrar em contato com Ngrenhdjan Xikrin [Rafaela]
pelo email xikrin@hotmail.com
"Desde ontem, quinta
21/06/2012, os índios atingidos pela Hidrelétrica de Belo Monte ocupam um
terreno de construção da Barragem. Eles decidiram pela ocupação para manifestar
sua insatisfação com o desrespeito de seus direitos e o não-cumprimento das
condicionantes, em especial aquelas relativas aos indígenas. Com organização
própria e contando apenas com seus recursos, eles ocuparam uma ensecadeira que
está sendo construída no Sítio Pimental que visa permitir a construção da obra.
A manifestação é pacífica, e eles exigem a presença de representantes do
governo e da Norte Energia Sociedade Anônima.
Ontem, os Xikrin
daTerra Indígena Trincheira-Bacajá e Juruna do Paquiçamba chegaram à
ensecadeira por rio, vindos de suas TI, que ficam a jusante da barragem, na região
que sofrerá com a seca, em área chamada pelo empreendimento de Vazão Reduzida
do Xingu. Embarcações partiram também de Altamira, onde alguns indígenas chegaram
por estrada vindos das aldeias mais distantes, e de onde partiram indígenas que
permaneciam ou residem na cidade. São
esperados os Arara da Volta Grande do Xingu e representantes de todas as Terras
Indígenas na região, vindos dos rios Iriri e do Xingu, a montante de Altamira,
além dos citadinos. Hoje de manhã lideranças Parakanã partem para se reunir aos
que já se encontram acampados na ensecadeira.
Os índios estão
insatisfeitos com a situação, já que as condicionantes que deveriam anteceder
as obras não estão sendo devidamente cumpridas em suas terras e em Altamira.
Além daquelas que afetam a todos – como a demora em investir na infra-estrutura
da cidade, nos serviços de saúde e educação e no saneamento básico que estão
cada vez mais sobrecarregados com o aumento populacional já sentido pela região
–, os povos indígenas preocupam-se com a demora na implantação do Plano Básico
Ambiental – componente indígena (PBA), que deveria estabelecer e efetivar os
programas de compensação e mitigação dos impactos já sentidos na região pelos
indígenas; com a demora na entrega aos Xikrin dos Estudos Complementares do Rio
Bacajá, que por ora apenas foram apresentados nas aldeias, e que permitiria um
melhor dimensionamento dos impactos neste rio e para os Xikrin, e garantia da
definição de programas de compensação e mitigação destes impactos, em especial
pela seca que prevêm que seu rio sofrerá com a construção do empreendimento; pelo
desconhecimento do PBA pelos indígenas, do qual se pede mais e melhores
apresentações para todos entenderem; pela demora em definir a situação
fundiária das Terras Indígenas Terra Wangã, Paquiçamba, Juruna do Km 17 e da
Cachoeira Seca; pela indefinição no sistema de transposição da barragem e o
temor de que eles fiquem isolados de Altamira, cidade onde estão os principais
serviços que lhes atendem (de saúde, educação, escritórios da FUNAI); por não autorizarem
a construção de mais estradas como alternativa ao transporte fluvial atualmente
utilizado pelos indígenas e que será dificultado pela transposição da barragem
e pela seca (vazão reduzida) do leito do rio; e pela falta do investimento necessário
e anterior à obra em infraestrutura nas aldeias impactadas, como por exemplo
para garantir a captação de água potável nas aldeias da Volta Grande do Xingu,
nas quais a água do rio, até então consumida pela população, já está barrenta e
insalubre devido à construção."
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