20 de abril de 2010 | 0h 00
Renée Pereira - O Estado de S.Paulo
Entidades sociais e de meio ambiente, agricultores e tribos indígenas realizam hoje e nos próximos dias uma série de manifestações pelo Brasil contra a Hidrelétrica de Belo Monte (PA), a devastação da Amazônia e a política energética do governo Lula.
Mesmo que o leilão da usina, marcado para hoje, às 12 horas, não ocorra por causa da liminar concedida ontem pela Justiça Federal do Pará, os movimentos prometem reunir centenas de pessoas em várias localidades, paralisar estradas e balsas.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)e o Movimento dos Sem Terra (MST) vão se reunião em frente a órgãos estatais de oito cidades brasileiras: Fortaleza (CE), João Pessoa (PB), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF) e Belém e Altamira (PA).
"A partir das oito horas vamos sair em passeata para dialogar com a sociedade", destacou o representante do MAB, Iuri Charles Paulino, garantindo que será uma manifestação pacífica.
Na avaliação dele, o problema de Belo Monte, prevista para ser construída no Rio Xingu, no Pará, é um problema nacional e internacional, fere o direito à soberania dos povos, a dignidade dos indígenas, ribeirinhos e a todos os brasileiros que pagarão a conta dessa obra. "Se esse leilão ocorrer, será um crime de lesa-pátria."
As manifestações contra a hidrelétrica começaram ontem em Altamira, numa vigília em frente das instalações da Eletronorte, que incluiu rezas, carros de som e discussões sobre o empreendimento. Além de moradores da cidade, índios também participaram. Para hoje, agricultores prometem bloquear a Rodovia Transamazônica, no trecho entre Altamira e Vitória do Xingu. Essa é a única ligação terrestre que os moradores da cidade têm para Belém e Santarém.
Também há previsão de protestos em Cuiabá (MT). "Se Belo Monte vai trazer prejuízos pro Povo do Xingu, índio vai provocar prejuízo para muita gente e empresas (sic)", alerta o cacique kaiapó Megaron Txcurramãe.
Ele e mais 30 lideranças, reunidas na aldeia Piaraçu, na terra indígena Capoto-Jarina, devem fazer a segunda manifestação contra Belo Monte. O cacique afirma que, se a usina vai prejudicar o povo indígena, então eles também vão prejudicar o governo e o projeto.
A primeira manifestação ocorreu em novembro de 2009 e reuniu, durante seis dias, lideranças das 15 etnias que moram no Parque do Xingu, cerca de 300 pessoas. O movimento foi liderado pelo cacique Raoni Metuktire. Apesar de definida as estratégias, os líderes não quiseram antecipar a data, mas garantiram que ocorrerá antes do "fim do mês".
A estratégia desta segunda manifestação será a mesma usada em 2009: a paralisação da travessia da balsa no Rio Xingu, operada pelos índios. A travessia liga São José do Xingu a outros municípios de Mato Grosso e também do Pará. Por dia, cerca de 60 caminhões, 30 veículos de passeio e ônibus passam pelo local. No dia 15 de maio, os povos indígenas prometem outra manifestação.
Invasão. No Pará, onde será construída a hidrelétrica, os índios também planejam manifestações para os próximos dias. Segundo o índio Luiz Xipaia, nos próximos dias representantes de várias aldeias espalhadas pelo Rio Xingu e afluentes planejam formar uma tribo multiétnica no sítio Pimentel, onde será construída a barragem de Belo Monte, conforme o Estado antecipou na edição de domingo.
Luiz diz que ainda não sabe quando será a invasão, já que a locomoção dos índios leva tempo e só é feita pelo rio. Em alguns casos, a viagem dura cerca de quatro dias. "Para terça-feira (hoje) não será possível porque os índios ainda estarão em viagem. Mas pode ocorrer entre quarta e quinta-feira."
Segundo ambientalistas, os índios que moram à beira do Rio Xingu e do Rio Bacajá serão afetados pela construção de Belo Monte. Para alimentar a barragem da usina, a água do rio será reduzida na chamada Volta Grande do Xingu, onde ficam as aldeias Terra Wanga (dos Arara) e Paquiçamba (dos Juruna). Para o cacique José Carlos Arara, a construção de Belo Monte vai ilhar sua comunidade, que ficará sem acesso à cidade de Altamira, no Oeste do Pará.
"Isso sem contar que o nosso ganha pão está em risco. Vivemos especialmente da pesca. Mas, com o nível mais baixo do rio, os peixes vão desaparecer", teme o líder dos Arara. A informação é corroborada pela professora da Universidade Federal do Pará, em Altamira, Janice Muriel. "A redução da água no Xingu vai prejudicar a reprodução dos peixes e colocar em extinção algumas espécies." / Colaborou Fátima Lessa.
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